01/07/2008 – 18h13
da Folha Online

“O Livro Amarelo do Terminal”, de Vanessa Barbara

Divulgação
Capa de "O Livro Amarelo do Terminal", de Vanessa Barbara
Capa de “O Livro Amarelo do Terminal”, de Vanessa Barbara

 

A matéria, o objeto, isso é jornalístico; a linguagem, porém, o ritmo fluido de sua narrativa, faz com que o leitor sinta uma ambientação ficcional, típica do romance polifônico moderno. As diversas vozes, ou seja, os relatos que Vanessa Barbara destaca em “O Livro Amarelo do Terminal” (Cosac Naify, 2008), sua ordenação, contornam uma presença anônima que parece refletir sobre os conceitos sempre tão lisos do que se chama de “jornalismo literário”.

Maior rodoviária da América do Sul, o Terminal Rodoviário do Tietê serve de objeto de estudo e reportagem e reflexão. Fazendo uso da reportagem clássica, a autora apóia-se em farta documentação histórica para, a partir dela, experimentar com diversos modos de relatar uma informação: o humor, o nonsense, por exemplo. Chega a criar um gerador automático de informações, que se desdobra na própria narração.

“As moças que trabalham lá –como Cíntia– precisam conhecer em minúcias a cidade. E cada canto da rodoviária: o homem só queria saber onde era a plataforma 49, e ela mal precisou de três segundos para informá-lo”. Desse modo, a narradora apresenta suas personagens como um microcosmo jornalístico – elas estão lá para igualmente informar, e o hábito, a repetição, ou, em nível mais extremo, a alienação dos que trabalham para informar, como “um gerador automático” que aponta e atira para todos os lados indiscriminadamente.

O projeto gráfico sempre cuidadoso da Cosac Naify acompanha a polifonia do relato. Por exemplo, as páginas amarelas servem de contraponto àquelas que mais lembram os antigos bilhetes de ônibus: para justamente destacar a parte de cunho mais histórico.

A estréia de Vanessa Bárbara convence pelo trabalho que tem em lidar com a linguagem do jornalismo de maneira bem-humorada, sem perder o foco do seu objeto, de seu conteúdo.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u417949.shtml