Cult Online
6 de Julho de 2008
Por Paula Fazzio
“Sou repórter da [revista] piauí, onde escrevo sobre hipnose, astrologia e anões”. É assim que Vanessa Barbara, 26, começou sua descrição quando foi perguntada sobre seu ofício. A jovem jornalista é também tradutora e acaba de lançar O Verão do Chibo, em parceria com Emílio Fraia e O Livro Amarelo do Terminal, seu trabalho de conclusão de curso em jornalismo sobre o terminal rodoviário do Tietê, em São Paulo. O resultado foi uma abordagem diferente tanto no conteúdo quanto na forma de apresentação.
“Fiz o TCC como um projeto pessoal para aproveitar a oportunidade de escrever algo legal e poder mencionar o Paulo Gorgulho num projeto acadêmico (…) Eu queria fazer um livro de crônicas, que aos poucos foi virando reportagem. Procurei ir além do jornalismo cotidiano e dar maior polissemia à informação, com espaço para a pluralidade de vozes e a interlocução do leitor. Meu objetivo era o de derrubar a certeza e, em seu lugar, registrar a dúvida”. O TCC de Vanessa, que teve como orientador o jornalista e crítico, Marcelo Coelho foi editado pela CosacNaify.
Com páginas amarelas e roxas, o livro foi lançado na última FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), que ocorreu no início de julho. A primeira obra jornalística do catálogo da editora pertence ao gênero jornalismo literário, que consiste em utilizar recursos de observação e redação originários da literatura, imersão do repórter na realidade, voz autoral, estilo, precisão de dados e informações, uso de símbolos, digressão e humanização. Vanessa Barbara ainda participará de um debate sobre jornalismo literário no dia 12 de agosto com o jornalista Matinas Suzuki na Livraria da Vila às 19h30.
Esse “livro-reportagem com crise de identidade” , como define a própria autora, preocupa-se em retratar alguns elementos cotidianos, aparentemente banais, que não são visíveis a olho nu. “A moça acendendo uma vela dentro do Malex, a velhinha que diz que a Marinha Britânica virá buscá-la, gente andando com enormes fiapos presos aos pés, a quantidade buliçosa de freiras e de pranchas de surf, o esquecimento de espingardas, kombis, máquinas de serrar azulejos, camas, muletas e dentaduras”, explica Vanessa.
O que chama atenção são as descrições de detalhes extraordinários que parecem se perder na multidão. Para isso, a jornalista partiu da frase encontrada em Narrador, do filósofo alemão, Walter Benjamin: “Cada manhã nos informa sobre as novidades do universo. No entanto somos pobres em histórias notáveis”. A base teórica foi pesquisada em Edvaldo Pereira Lima e Maria Isaura Pereira de Queiroz e autores do chamado New Journalism como Gay Talese, Joseph Mitchell, Truman Capote, e Ernest Hemingway.
A cor escolhida para o projeto gráfico foi explicada pela autora: “Amarela é a cor dos bilhetes de passagem, dos ônibus da Itapemirim, do boné dos carregadores, dos chicletes perdidos e dos pudins. Eu adoro responder perguntas sobre pudins”. Vanessa fez essa estranha afirmação sobre pudins diversas vezes durante a entrevista.
Como escreveu João Moreira Salles no prefácio de O Livro Amarelo do Terminal, “enquanto desvenda quase todos os nós, a repórter entra em contato com a vasta humanidade: gente que chega, parte, se perde, espera, beija, chora, se enamora, tem fome, é ou está só e depende da gentileza de estranhos. Este livro prova que estranhos existem. Vanessa é um deles”.
Leia um capítulo do livro aqui: http://www.cosacnaify.com.br/noticias/flip2008/olivroamarelo_cap3.pdf
O Livro Amarelo do Terminal
Vanessa Bárbara
CosacNaify
R$35 – 253 págs.