O distrito do Mandaqui fica na zona norte de São Paulo, tem 13 km², 24 bairros, 103 mil habitantes, 39 favelas, uma pedreira, duas escolas de balé, oito paróquias, uma biblioteca, moradores confusos e um fuso horário diferente. De ônibus, seu bairro principal, o Alto do Mandaqui, fica a uma hora e meia da civilização e a 20 minutos das estações de metrô mais próximas, Santana e Jardim São Paulo. Talvez por isso seja um universo à parte, onde as coisas não seguem a mesma lógica do resto da cidade.
É um bairro onde costuma faltar luz e a bocha é um esporte respeitável. No Mandaqui, as lojas têm nomes de pessoas, e não epítetos comerciais: quem vai à papelaria, diz: “Vou na Vanilda”, quem precisa ir à farmácia, diz: “Vou no Seu Décio”; para comprar verduras é no Seu Eliseu, para consertar a televisão é no Akira, a podóloga é a Sandra, e a dentista é simplesmente “a dentista”. No Mandaqui, quando um ônibus se perde do itinerário, o povo sai na rua para conferir. Já é lendária a história de um 178L – Lauzane/Hospital das Clínicas que desceu uma pequena rua residencial, inexplicavelmente longe de seu trajeto normal, e provocou comoção nos nativos.
No Mandaqui há cavalo desgovernado, tiroteio na praça, santa encontrada no córrego, gente de pijama na rua e carteiros cantores que ajudam os amigos a vender mandioca. Às vezes, os motoristas de ônibus desviam da rota para levar um passageiro até a porta de casa ou para tomar um suco na cozinha de alguém. De vez em quando, um cadáver é encontrado no córrego e um brechó abre em alguma esquina. Há estabelecimentos com nomes sugestivos, como a choperia Mandacá e a veterinária Mandacão. Há a maior piscina de bolinhas da América Latina, a Amazing Balls, que abriga 310 mil esferas multicoloridas e promoveu, em 2005, uma comemoração ao Dia da Madrasta.
No último dia 6, o Mandaqui completou 120 anos de fundação. Seu nome vem do tupi “rio dos bagres”, o que dispensa comentários, mas há também outras versões. Uma delas remete a um antigo morador, que, ao encontrar em sua propriedade os funcionários da Companhia da Cantareira, disse que quem mandava ali era o “filho do meu pai”, ou seja, ele mesmo. Com o tempo, os vizinhos passaram a se referir à área como a terra do Mandaqui.
Nesse peculiar vilarejo, às vezes caem barras de ferro do céu (como num dia, em 1990, fato que ainda não teve explicação) e praças surgem da noite para o dia, como a saudosa Praça Tito. Situada num ponto da Rua Cel. Joaquim Ferreira de Souza, a praça foi criada por um nativo e consistia numa área repleta de ervas daninhas e arbustos venenosos. Naquele pequeno espaço, havia uma cadeira carcomida de cor bege e um cartaz de papelão, onde se lia: “PRAÇA TITO. Favor não estragar a mobília.” Infelizmente, o logradouro não existe mais.
[…] informou a agência hortaliça no Estado de São Paulo nesta coluna e […]