“Um ponto amarelo surge no horizonte. As pessoas ao redor param, observam e se aproximam do gigante pato de borracha amarelo. Os espectadores são cumprimentados pelo pato, que lentamente move sua cabeça. O Pato de Borracha não conhece fronteiras, não discrimina ninguém e não tem conotação política. Este gigante amigável e flutuante tem propriedades curativo-sociais: pode amenizar tensões por onde passa. O Pato de Borracha é leve, amigo e apropriado para todas as idades e lugares do planeta.”
É essa a proposta de uma instalação artística que flutua no lago do SESC Interlagos só até hoje, 9 de novembro. Trata-se de um gigantesco pato inflável de nylon e borracha, com 12 metros de altura, 12 de largura e 15 de comprimento, criado pelo artista holandês Florentijn Hofman para a Mostra SESC de Artes.
Ele é exatamente o que um pato de borracha deve ser: amarelo, contente e sincero, só que tem o tamanho de um pequeno edifício. Na entrada do SESC, quando se pergunta onde fica o lago, a resposta da funcionária é clara: “Para ir ao lago você desce a ladeira por aqui, vai descendo, descendo até ver um pato”. A instalação conquistou a simpatia dos usuários do clube, que gostariam de vê-lo para sempre naquelas águas. “Está muito bonitinho esse pato”, afirma uma senhora. “Pensei que fosse um pinto”, diz outra. Nos dias de sol, a criatura de borracha fica ainda mais alegre e o povo aproveita para tirar fotos. “Tira uma de mim do lado do pato”, pede Daiane Cibele da Silva, de 21 anos, que foi visitar a obra com as amigas. “Acho até que tem que virar um ponto de encontro, tipo: ‘estou te esperando lá no pato’.”
A ave de borracha já esteve no estuário do rio Loire, na França, em dimensões ainda maiores. O mesmo artista também criou um coelho doce de 6 metros de altura, um piano gigante e um corvo em Rotterdam. Pintou de azul todo um quarteirão de edifícios e uma rua de amarelo. Confeccionou um rato almiscarado de palha, madeira e metal, que serve de mascote de um vilarejo e fica deitado de barriga para cima com seus 30 metros de altura. E fez um porco inflável entalar no corredor do menor museu do mundo, o Museum van Nagsael, em Rotterdam.
Com essa proposta humanitária, é a segunda vez que um pato de borracha faz história na geopolítica mundial. Em 1992, um navio chinês a caminho de Seattle tombou, lançando ao mar 30 mil patinhos de borracha, além de sapinhos e tartarugas infláveis. A partir de então, a IMO (International Maritime Organization) rastreia a carga perdida com o objetivo de estudar as correntes marítimas. A odisséia dos patinhos começou no Ártico, passou pelo mar de Bering, Groenlândia e Islândia, com muitas baixas registradas na frota. Depois de doze anos, os patos aportaram na costa norte-americana, embora desbotados e livres das embalagens originais que os juntavam em grupos de quatro.