Há oito anos, o mineiro Pedro Marcelino Filho, de 73 anos, é jardineiro-chefe de quatro áreas públicas na Praça Joaquim Lopes, no Lauzane, zona norte de São Paulo. Ele não recebe nada da Prefeitura para cultivar lírios, íris, magnólias, primaveras e jacarandás num terreno em declive que antes vivia cheio de entulho.
É aposentado há 25 anos (“quase tenho o direito de me aposentar de novo”, diz) e vem nas horas vagas cuidar do jardim, que tem robustas cercas de madeira e demanda muito trabalho braçal. Seu Pedro, que veste uma camisa listrada parcialmente desabotoada, além de um sapato modesto, trabalhava com terraplenagem e chegou a passar um ano e meio na Subprefeitura da Sé. Preferiu sair de lá porque as coisas não funcionavam, e se engajou em trabalhos em campos de aviação no Paraguai e barragens no Pará. Hoje faz carretos em seu caminhão. “Ainda sou um aprendiz”, declara, enquanto corta umas pragas amarelas dos arbustos. “Isso aqui é chamado de macarrãozinho, os pássaros trazem e acaba com as plantas.”
Pedro adquire as mudas num canteiro de jardinagem da Prefeitura que fica na Rua Doutor Zuquim, em Santana. Mostra um jequitibá, que veio dentro de um carro numa caçamba de 20 litros. “Quando cresce, precisa de dez pessoas pra dar um abraço.” Na vida desse senhor, natural de Pitangui, Minas Gerais, cuidar dos jardins é um divertimento. Mas ele observa que, se tivesse apoio, as coisas seriam muito mais fáceis. “Agora, por exemplo, é hora do adubo, aí se eu tivesse um pouco, armazenava e ia aplicando.”
Na Praça Ultramarino, bem ao lado do território de Pedro, o pessoal do ponto de táxi e das Kombis de carreto, como o Luis, o Marcos e o Toninho, expressa o mesmo pensamento. “Quem manda aqui é nóis”, diz Antonio da Silva Braga, freqüentador dos campeonatos de dominó da praça. “Da Prefeitura aqui não tem nada, a gente é que cuida de tudo.” De vez em quando, convocam reforços: “Na época da seca, quem doou água foi o Material de Construção Miúcha, além da dona da lojinha de 1,99, o cidadão que mora em frente da praça e o seu Dito, vizinho de um dos jardins.” Ele conta: “Se a gente não cuidar do cantinho onde mora…” Mas não termina a frase.
Enquanto Pedro continua podando os pingos-de-ouro, Antonio aproveita para mostrar uma área construída por eles numa esquina da praça: o “Cantinho do Truco”, onde há uma mesa, uma vassoura e um pôster do filme Ultravioleta, além da inscrição: “O que vale é a amizade. Sejam todos bem-vindos”, pintada na parede.
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Em tempo: a misteriosa Praça Tito, mencionada na primeira coluna, foi construída em homenagem a Trípoli Amelio Bernardini, avô da leitora Cristina Bernardini. Cristina aproveita para avisar que está se mudando para o Mandaqui, numa casa ao lado da do Cebola, e pede encarecidamente que não estraguem a mobília.
[…] (Conforme informou a agência hortaliça no Estado de São Paulo nesta coluna e nesta) […]