Blog da Cosac Naify
23 de outubro de 2009 às 17:34
Se o nadador recordista Cesar Cielo fosse um livro, e se esse livro fosse amarelo, sem dúvida seria esta reportagem, que vem granjeando prêmios no Brasil e no mundo.
Sentada à janelinha de seu Livro amarelo do Terminal, Vanessa Barbara já faturou o prêmio da APCA e emplacou o primeiro lugar no Jabuti, ao lado (ou melhor, um passinho à frente) de veteranos de grosso calibre como Zuenir Ventura.
O projeto das designers Maria Carolina Sampaio e Elaine Ramos foi um dos 50 livros de 2008 destacados pela AIGA, a associação americana de designers, em Nova York. O papel de impressão é aquele amarelinho, usado em bilhetes rodoviários. Na balbúrdia tipográfica criada pelas designers, Elaine enfim encontrou uma utilidade para sua vasta coleção de passagens de ônibus e congêneres: reproduzir graficamente, sem usar uma única foto, a aparente anarquia do Terminal Tietê.
O livro inaugurou uma nova série de jornalismo na Cosac Naify, mas ao mesmo tempo se filia à linha de literatura da editora (pelos recursos que toma emprestados da ficção), e é primo-irmão dos livros da Coleção Particular, que reúne edições experimentais de grandes textos de ficção.
Afeita a atividades de natureza vária, como o cultivo de hortaliças, o volibolismo, a tradução literária e a digitalização da enciclopédia O mundo pitoresco, a pequena notável dedica-se antes de mais nada a promover os encantos de seu rincão natal, o plácido bairro paulistano do Mandaqui. Foi lá, nas imediações do Bar do Firmo, que conheceu o escritor Emilio Fraia, com quem tentou encontrar um vibrafone e assinou, no mesmo 2008 do Livro amarelo, um romance a quatro mãos: O verão do Chibo.
Trocadilhos tolos e conduta absurda à parte, o que faz esta reportagem ganhar prêmios e fisgar tantos leitores? É possível arriscar alguns palpites.
Um deles: dos melhores repórteres, Vanessa Barbara herdou o olhar serendipitoso, a disponibilidade para escutar. Dos melhores ficcionistas, o humor, a liberdade na linguagem e a habilidade para tratar um tema social — o povão da rodoviária — sem idealizações ou caricaturas.
Será isto o tal jornalismo literário?
Veja abaixo um pouco do pensamento vivo de nossa premiada.
O seu Livro Amarelo do Terminal já ganhou o prêmio da APCA de Melhor Livro-Reportagem, foi selecionado pela AIGA entre os melhor livros de 2008 e agora leva o Jabuti de Reportagem. Em quanto tempo pretende receber a Ordem do Cruzeiro do Sul?
Tenho cá para mim que a Ordem do Cruzeiro do Sul virá naturalmente, assim que eu receber ao mesmo tempo o prêmio Nobel e o IgNobel pelo conjunto da minha obra. Será por conta da sequência do Livro Amarelo, a Trilogia O Livro Bege da Plataforma Petrolífera, O Livro Magenta dos Paraísos Fiscais e O Livro Ocre do Mandaqui.
Como responde aos rumores de que será lançada uma edição comemorativa de seu livro, adaptada à reforma ortográfica de 1943?
Estou na expectativa – finalmente poderemos acentuar com galhardia as palavras flôres, pilôto, côr e agôsto. Dou fé aos rumores e prometo fazer o máximo possível para que a edição comemorativa saia antes do próximo aniversário da Socicam, que na edição será grafada “Socicão”.
Como pretende alimentar seu Jabuti? Corre à boca pequena que você já está munida de ração especial para quelônios.
São crustáceos desidratados que ganhei do Cassiano. Mas aposto que o jabuti Jacinto será adepto da carne moída crua, como todo bom mandaquiense no exílio.
Quando publicaremos um texto seu exclusivo para o Blog da Cosac Naify?
Em breve, em breve. Agora estou de férias, dando a volta ao mundo de patins.