Site Jornalismo B
19 de novembro de 2009
por Luiza Monteiro
Recentemente terminei um dos tesouros obtidos este ano na Feira do Livro de Porto Alegre: trata-se de O Livro Amarelo do Terminal, da jornalista Vanessa Barbara, editado pela excelente Cosac-Naify.
Repórter da revista Piauí, Vanessa se infiltrou no Terminal Tietê de bloquinho na mão, disposta a captar impressões, dados e histórias do local, sua construção, seus funcionários e as milhares de pessoas que nele embarcam e desembarcam cotidianamente.
Se o uso da expressão “se infiltrou” na frase anterior parece despropositado (sendo o Terminal um bem público), quem lê o livro vê que é bem isso: Vanessa preocupou os departamentos de assessoria de imprensa e Relações Públicas e enfrentou dificuldades, inclusive, por não estar ligada a nenhum grande veículo- tudo isso aparece n’O Livro Amarelo. Os telefonemas a inúmeros departamentos (cada um deles redirecionando a outro departamento), os dados que “são públicos mas são privados”. E, com ironia, a “ficha de geração de matéria automática” da assessoria.
Aparece a história de Marcos, “a voz mais bonita do terminal”, que interrompe conversas pra anunciar pelo rádio a necessidade de comparecimento dos funcionários a um determinado balcão ou uma criança perdida perto do quiosque de informações. E de Rosa, que jura que a Marinha Britânica está vindo para levá-la pra longe do caos paulista. O Natal dos migrantes. A faxineira Augusta. As onipresentes freiras e pranchas de surfe.
Há também algo que se aproxima da reportagem clássica, com farta consulta a arquivos de jornais e documentos, reconstruindo a história novelesca da construção do Terminal Tietê e a imagem popular (remontada a partir de letras de músicas de sucesso à época) desse processo.
Popular, governamental, público, privado, histórico, atual, urbano, rural, factual, imaginário: tudo isso se funde no livro de Vanessa. O tipo de livro que explica por que, com todas as dificuldades que ela apresenta, eu continuo amando a profissão.