Foram oito temporadas de ameaças terroristas à supremacia ianque. Quase duzentas horas – em tempo real – de derramamento de sangue, abuso de autoridade e falta de respeito ao patrimônio público. Chega ao fim amanhã a série 24 horas e, com ela, a saga patriótica do agente Jack Bauer, uma espécie de MacGyver moderno que, para defender a nação, realizou proezas como sequestrar o presidente dos Estados Unidos e abrir a jugular de um desafeto com os dentes.
Às fãs que, a essa altura, ainda cobiçam fervorosamente o protagonista e dariam tudo para participar de um jantar à luz de velas com o moço, saibam que é uma péssima ideia. Segundo nossas estatísticas, são 50% as chances de se ter uma morte trágica, 25% de ser torturada pela máfia chinesa ou assassinos árabes, 37,5% de descobrir que alguém de sua família é terrorista, 12,5% de ser usada como isca, 37,5% de ter seu filho sequestrado e 62,5% de ver um ente querido ser torturado por sua cara-metade. Seu pai também pode sofrer sérias ameaças (duas em cada oito vezes) e seu ex-marido, pior ainda (três fatalidades em oito). A conta fecha em mais de 100% porque tragédias simultâneas podem ocorrer com as mesmas mulheres – a média de desgraças é de 2,87 por pretendente. Há também duas chances em oito de que você enlouquecerá ou ficará catatônica.
Em 24 horas, tampouco compensa ser presidente dos EUA: há uma probabilidade de 44,4% de ser morto ou ficar em coma devido a uma ação terrorista, 22,2% de ter o próprio filho assassinado, 11% de ser apunhalado pela esposa, 22,2% de sofrer uma ação bilionária de divórcio, e só duas chances em nove de deixar o cargo sem nenhum escândalo envolvendo parentes, tráfico de material atômico ou conspiração governamental. Isso quando não se é, por si mesmo, um traidor da nação (dois em nove presidentes demonstraram pendor para a atividade).
Até agora, faltando um episódio para terminar a série, que ao todo possui mais de uma semana corrida de duração, Jack matou 261 pobres-diabos, numa média de 32,6 por dia e 1,72 por hora. Salvou o mundo. Invadiu consulados, cometeu contravenções federais, torturou à larga, estripou um homicida e sacrificou inocentes em nome da pátria. Impossível calcular quantas ONGs em defesa dos direitos humanos foram criadas por conta da série.
Por diferentes motivos, a maioria fatais, ao menos quinze pessoas próximas a Jack Bauer se arrependeram de tê-lo como amigo. Destes, quatro sofreram ação direta do agente (três tiros e um decepamento). Os inimigos não se saíram melhor, já que a taxa é de quase 100% em vilões falecidos pelas mãos do justiceiro. Ou seja: não é uma boa ideia ser colega, namorada e nem parente de Jack Bauer (dos familiares, metade bateram as botas), mas também não compensa virar inimigo. Na dúvida, ao avistá-lo chegando com as compras, mude de calçada.