A julgar pela nossa teledramaturgia, o uso do subjuntivo é bem difundido entre os brasileiros. Emprega-se com grande espontaneidade o futuro não-composto: em “Ribeirão do tempo”, novela da Record, um senador diz que o filho “não verá” algo acontecer. Ele desabafa: “Não suporto essa sua cara de deboche infindável”, o que soa muito natural. O filho responde: “Pode perder as esperanças, coroa”.
Na trama, xinga-se com pungência, dizendo que Fulano é catastrofista e bobalhão. Os personagens argumentam como num romance de cavalaria, a exemplo da loira que pondera ao namorado: “Sem dúvida, mas o que eu quis ressaltar é que…”. Alguém usa a palavra “inexpugnável” e a mocinha cai de amores.
Quase no mesmo horário, na Rede Globo, um uso acentuado de ênclises que encheria de orgulho o velho gramático Napoleão Mendes de Almeida: “Meta-se com o seu casamento e deixe o meu em paz”, grita uma das mocinhas de “Passione”, no auge do rancor. A atilada utilização pronominal não cessa nem nos momentos mais difíceis, como quando a jovem noiva indecisa pede: “Será que você pode nos deixar a sós?”.
No campo das ofensas, os arroubos léxicos atravessam oceanos (“maledeto!”, “porca miséria!”) e gerações – uma certa personagem é “tinhosa”, o marido traidor é “indecente”. Também é possível pensar em voz alta utilizando-se da seguinte construção: “Eu tenho que tirar essa mulher da minha cabeça”.
Em “Uma rosa com amor”, do SBT, nem as adolescentes fogem à correção, dizendo: “Confesso que sinto um pouco de medo”. Tomados sempre por um ímpeto sintático impecável, os personagens se referem “à pobre da magricelinha da Miriam” e, numa discussão brutal, observam: “por favor, não me enfeze, porque eu posso acabar perdendo as estribeiras”. Conjuga-se muito bem no horário nobre.