“Então os desbravadores europeus se espalharam para o centro da África e…”, discorreu Galvão Bueno, durante o modorrento confronto entre Inglaterra e Argélia, no último dia 18.
É nos momentos mais soníferos dos jogos mais mornos que os narradores esportivos têm que provar seu valor, entretendo os ouvintes com sua sabedoria aleatória. Naquela ocasião, discutiu-se a estampa florida da bermuda térmica de um dos atletas. Em seguida, Galvão declarou que o melhor em campo era o juiz do Uzbequistão.
Os locutores aproveitam o ensejo para lançar mão de todos os seus recursos de oratória. Uma seleção pode, por exemplo, “assimilar” o gol adversário e efetuar fortes passes “em profundidade vertical” (o popular chutão).
Em transmissões, é comum dizerem que o jogador “primeiro tentou na categoria, depois na raça”, ou seja, primeiro tentou roubar a bola, depois apelou para uma sangrenta voadora. Menciona-se a “desinteligência” do esquema tático para se referir à burrice do técnico, e o “bom humor da torcida” quando esta emite palavrões de fazer corar Edmundo, o saudoso Animal.
Entre as gafes históricas da narração televisiva está uma transmissão da Copa de 74 feita por um pool de comentaristas, entre eles Galvão Bueno. O trio narrava um ataque do time da Bulgária, quando a bola saiu pela linha de fundo e foi tiro de meta para a Suécia. Nesse momento, a câmera deu um close no placar do estádio: “Austrália 0, Alemanha Oriental 0”. Pânico na cabine.
Galvão Bueno não tinha nada a fazer senão continuar: “Vai a Austrália para o ataque e a Alemanha Oriental se defende como pode”, informou, numa locução esquizofrênica em que a Bulgária chutou por cima do gol da Suécia e quem bateu o tiro de meta foi a Austrália. Ambos tinham as mesmas cores de uniforme – amarelo de um lado e branco do outro.
Mas o maior tropeço ainda estava por vir. Na Copa de 94, conforme reza a lenda, um locutor colombiano se superou, entrando imediatamente para o cânone. Primeiro disse: “Stefan Effenberg está com a bola, que bom jogador é Stefan Effenberg… excelente Effenberg”.
E, logo em seguida: “Senhores, substituição no time da Alemanha. Entra Stefan Effenberg”. Silêncio incômodo.