Ele tem medo de germes, agulha, leite, morte, cogumelos, altura, multidões, elevadores, coisas redondas, lençóis e filhotes (nessa ordem). Também evita o contato com liquidificadores e abelhas – e com abelhas em liquidificadores.
Adrian Monk, o detetive menos destemido de San Francisco, finalmente desvendou seu principal caso, após oito temporadas tentando descobrir quem matou a esposa Trudy, na série “Monk”.
Nesse período, mesmo sendo dependente de lencinhos de limpeza e sofrendo de um severo transtorno obsessivo-compulsivo, ele conseguiu resolver 125 crimes. Venceu os meliantes mais durões e encarou sérias ameaças, embora tivesse pânico de joaninhas. (“Tem natureza nas minhas mãos!”, ele grita, após se sujar com terra.)
Adrian Monk é a prova televisiva de que as limitações pessoais podem ser contornadas e até transformadas em qualidades – “é um dom e uma maldição”, afirma. Ele costuma dizer: “Você vai me agradecer mais tarde”, enquanto desinfeta uma evidência ou alinha os pés do cadáver.
Monk usa sua patológica fixação pelos detalhes para identificar o que ele chama de “peças fora do lugar” na cena do crime. “Esta sala é um pesadelo do feng-shui!”, reclama. Para ele, tudo precisa fazer sentido. Por mais que, na vida cotidiana, essas minúcias quase o tornem incapaz, são elas que lhe dão vantagem durante a investigação, convertendo suas fraquezas em forças.
Outro grande exemplo desse paradoxo é o detetive Columbo, da série homônima, a quem ninguém dá a mínima porque é vesgo, malvestido, descabelado e confuso. É justamente esse o seu método de solucionar crimes: aproveitando-se da arrogância alheia.
Quanto mais poderoso o assassino, mais superior ele se sente e, assim, tenta didaticamente trazer o pobre detetive à luz. É aí que Columbo, prestes a sair da sala e agradecer pelas informações – para alívio do suspeito -, diz: “Só mais uma perguntinha”. E desmonta o caso.
Em suma, ambos são “o oposto do Batman”, têm olho de vidro ou podem surtar diante de inofensivas gaitas, mas, no final, levam a melhor. Com todas as peças do homicídio encaixadas, Monk pode, enfim, descansar. “A menos que eu esteja errado, o que, você sabe, eu não estou…”