Espremer-se com um grupo de amigos a fim de caber no enquadramento e sorrir para a máquina fotográfica está entre as práticas mais degradantes do ser humano. Não há páreo para as pochetes, o telemarketing, as excursões a Porto Seguro, a podologia com ênfase em micoses, o vestido balonê.
Pior que isso, só os agrupamentos formados em torno de um repórter e uma câmera de TV, em geral na avenida Paulista. É quando o indivíduo perde de vez a noção do ridículo, decidindo espontaneamente que vai fazer “poropopó” vestido de esquilo durante uma passeata em comemoração ao Dia Mundial da Vergonha Alheia.
“O repórter Fulano de Tal está com a colônia alemã em Blumenau, é com você, Fulano”, anuncia o apresentador no intervalo de uma partida da Copa, e corta para um correspondente tentando encaixar o ponto na orelha.
Em questão de segundos, ele dá a deixa para a galera (entre eles, o homem vestido de esquilo), e o que era até então um bate-papo entre cinco senhores pacatos vira uma balbúrdia concentrada diante da tela. Ao que tudo indica, é o momento mais empolgante da vida daqueles alemães – todos tocando fole e com vestes típicas.
É ainda mais triste quando o evento só existe em função das emissoras ali presentes. Alguns câmeras de TV costumam liderar marchas de protesto e dirigem as massas, solicitando que parem, voltem, façam tudo de novo. “Estamos ao vivo”, ele informa, e os populares fazem a festa, com os “urrús” de praxe. “Corta”, ele diz, e todo mundo vai pra casa cuidar de seus afazeres.
Os closes na gente simples do povo, no popular exaltado e na viúva inconsolável deviam ser proibidos por lei. A gracinha final da repórter de tailleur afetando intimidade com o entrevistado podia muito bem dar cadeia, sem direito a sol no pátio.
Gente que acena para as câmeras, olhando de esguelha para ver se a gravação já acabou: três meses de trabalhos forçados. Dançarinas sorrindo e rebolando com vistas a se destacar das demais: Sibéria nelas. Populares indignados querendo aparecer: extração dentária com chave de grifo.
Quanto aos repórteres, a única punição suficientemente rigorosa é o voto de silêncio.