No dia 7 de setembro, o canal A&E estreou o primeiro reality show de horror da televisão: “Hoarders”, que em português ganhou um título mais genérico: “Obsessivos-compulsivos” (ter. às 22h).
Quem, a julgar pelo título, aguardou ansiosamente a exibição, afofou as almofadas três vezes e preparou-se para ver um programa sobre germofóbicos (ou metódicos, ou repetidores) deve ter sofrido um grande choque. As cenas eram apavorantes.
“Hoarders” ou “colecionistas” são os acumuladores compulsivos de tralhas, pessoas incapazes de se desfazer dos objetos mais inúteis. É gente que junta cadarços puídos, latas vazias, tábuas, jornais, disquetes e até anéis de latas de refrigerante.
Afinal de contas, “quem guarda tem”, dizia a minha tia Lucila. “Ratos”, eu completo. Os dois casos do primeiro episódio são de tragédias domésticas, como o casal que perde a custódia dos filhos por conta da insalubridade do lar e a esposa que fratura o braço e sofre um ataque cardíaco por culpa da tranqueira do marido.
Uma das justificativas mais usadas pelos entulhadores é o valor sentimental, mesmo que seja de uma folha em branco. Durante o programa, um sujeito levou quatro horas para examinar uma caixa em busca de coisas para descartar. Desistiu.
São discípulos modernos dos irmãos Langley e Homer Collyer, que, nos anos 40, acumularam 180 toneladas de lixo (ou 163 toneladas cúbicas) no sobrado onde moravam, no Harlem. Entre os objetos guardados “por precaução” estavam candelabros, carrinhos de bebê enferrujados, máquinas de raios X, pianos de cauda, automóveis, mofo e 3 décadas de todos os jornais de Nova York.
Homer era cego, mas Langley estocava os periódicos na esperança de que um dia pudesse lê-los. Além disso, Homer era paralítico e dependia do irmão para alimentá-lo.
O fim dos Collyer condiz com a sina dos entulhadores da série, embora em nível extremo: impossibilitados de andar pela casa, passaram a cavar túneis por entre o lixo e fazer andaimes sobre as pilhas. Um dia, Langley tropeçou e foi soterrado. Seu corpo foi encontrado a três metros do irmão, que morreu de fome, mas foram necessários 19 dias de trabalho para chegar até ele, retirando as 100 toneladas de lixo que os separavam.