Talvez seja culpa da velhice, mas acho surpreendente, quase inexplicável, a existência de um seriado como “Dexter” (FX, qui. às 22h), que atinge picos de audiência de 2,6 milhões de espectadores nos EUA.
Para quem nunca viu, a série fala de um analista forense da polícia de Miami, especialista em padrões de dispersão de sangue, mas que também acumula o ofício de serial killer nas horas vagas.
Sim, é um mocinho sociopata que esfaqueia, asfixia e retalha o próximo, embrulha seu cadáver e o despeja no mar, a bordo de um iate chamado “Fatia da Vida”.
É verdade que em sua lista de vítimas figuram apenas homicidas impunes, e que só raramente ele mata alguém por engano. “Eu sou um monstro limpinho”, afirma, referindo-se aos rolos de plástico com que costuma forrar a cena do crime.
“Vivi na escuridão por um bom tempo. Então meus olhos foram se ajustando até que a escuridão tornou-se o meu mundo e eu pude enxergar”, filosofa.
Durante a segunda temporada da série, que já está em seu quinto ano, o canal australiano Foxtel precisou tirar do ar um comercial que foi considerado de mau gosto. Além disso, meia dúzia de psicopatas em atividade confessaram sua admiração pelo personagem, o que estranhamente ainda não gerou nenhuma passeata de senhoras escandalizadas com a atração.
O que é ótimo, pois enquanto isso podemos assistir cenas de Dexter na aula de ioga: “Este é absolutamente, sem dúvida nenhuma, o pior momento da minha vida”. Então a professora começa a dançar e pede que Dexter seja tão belo quanto os flocos dourados de poeira diante da luz do sol. “Eu provavelmente poderia matá-la antes que alguém percebesse o que houve”, pensa.
Dexter é um justiceiro engraçado, do tipo que hesita em matar um psiquiatra homicida só porque precisa de mais uma sessão de terapia. Sua narração em off tem humor negro, tiradas tétricas e trocadilhos bobos. “Mais um belo dia em Miami – cadáveres mutilados e chances de tormenta no fim da tarde.”
Em certa ocasião, a esposa pergunta como ele pode ficar impassível diante do sofrimento do filho tomando uma injeção, ao que Dexter retruca mentalmente: “Serial killer, lembra?”.
Como se não bastasse, o fim da quarta temporada é de matar.
E o final dessa última? O que foi aquilo?!?!