Entre ônibus e bagagens, um microcosmo da cidade

Postado em: 15th novembro 2010 por Vanessa Barbara em Clipping
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15 de novembro de 2010
Blog Textáculos

O LIVRO AMARELO DO TERMINAL
de Vanessa Barbara
Editora: Cosac Naify, 2008, 254 págs.

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A correria da cidade, o amontoado de ônibus, um mundo gente que vai e vem, carrega bagagens, perde coisas tão inusitadas quanto uma dentadura, um banco de Kombi ou um braço mecânico. A rodoviária do Tietê, a segunda maior do mundo, reproduz a cidade de São Paulo. E é tão grandiosa quanto ela: abriga 61 empresas de ônibus com 331 linhas que atendem 611 localidades em todos os estados brasileiros, com exceção do Amazonas e do Acre,e mais quatro países sul-americanos (Uruguai, Paraguai, Argentina e Chile).

Por isso, conhecer esse terminal rodoviário é conhecer aspectos essenciais da vida da cidade e dos seus habitantes, dos migrantes que chegam cheios de esperança para se tornarem “paulistanos” ou dos que partem desiludidos com a cidade. “O Livro Amarelo do Terminal”, da jornalista Vanessa Barbara, desvenda não apenas os segredos desse terminal (não todos, porque o faturamento dos banheiros ainda é um dado guardado a sete chaves pelo administradores) mas as histórias dessa gente que chega, parte, espera.

Vanessa divide seu livro em 22 capítulos nos quais mostra a história do prédio inaugurado em 9 de maio de 1982, na avenida Cruzeiro do Sul, junto á estação Tietê do metrô; os segredos da administração, a vida de quem trabalha lá, dos motoristas e atendentes do balcão de informações; das responsáveis pela seção de achados e perdidos; e das pessoas que passam por lá.

O que impressiona, no primeiro momento, é a grandeza. Vanessa detalha o prédio, formado por dois terminais distintos (o terminal de embarque e o terminal de desembarque) mais os dois blocos de serviços localizados no andar superior.

Mas, essa descrição ganha vida quando Vanessa começa a mostrar as pessoas que movimentam o terminal. Ela passeia pelos terminais de embarque e desembarque e pelos dois blocos de serviço, anotando com sensibilidade histórias diversas. Mostra o trabalho das atendentes do balcão de informações, de coque, sombra nos olhos e lencinho no pescoço, prontas para dizer como chegar em qualquer lugar. Elas não falam inglês nem espanhol, mas atendem os estrangeiros na certeza de que, de uma forma ou de outra, acabam se entendendo. Mostra também o trabalho dos motoristas, das faxineiras dos banheiros com seu faturamento secreto, dos seguranças que tem ordens de impedir fotos ou reportagens desautorizadas dentro do terminal, carregadores, vendedores da loja de malas, pedintes e até do dono da voz dos auto-falantes da rodoviária.

As histórias do usuários são esclarecedoras. São lojistas do interior de São Paulo e de outros estados, que vêm a São Paulo fazer compras na 25 de março, gente que chega e procura por parentes que deveriam buscá-los, jovens surfistas que dormem sobre suas pranchas enquanto esperam, estrangeiros que querem passear em Ilhabela. Histórias de uma grande cidade, com gente que joga chicletes no chão e papel higiênico fora do lixo, pisa em salgadinhos, carrega malas e sacos pretos enormes, compara esnobe as condições do terminal com as condições oferecidas pelos terminais europeus. Tudo anotado e colocado no livro com um texto sensível, esclarecedor e coadjuvado por uma edição inovadora, com recortes de jornais, manchetes das revistas de fofocas expostas nas bancas de jornais do terminal, frases dos livros de auto-ajuda à venda etc. Enfim… um microcosmo da cidade.