Aqui em casa nós temos quatro: o primeiro é o controle remoto do DVD, com 31 botões e duas pilhas AAA. Depois tem o controle do Blu-Ray, com 52 botões de quatro cores diferentes. Então vem o da televisão, com 44 botões, e o dos canais a cabo, com 45 e um redondo chamado “agora”.
A tevê fica a apenas 1,78m de distância do sofá e, ainda assim, quando um dos controles é perdido entre as almofadas, a única reação possível é desistir de tudo e ir dormir mais cedo.
O controle remoto extinguiu os botões giratórios na frente do aparelho, bem como os gritos para alguém na cozinha ir até a sala mudar de canal. Aniquilou os cabos de vassoura, que serviam para aumentar e diminuir o volume à distância, e eliminou a audiência por inércia: ninguém mais permanece num canal por preguiça de se levantar.
Acima de tudo, o controle remoto trouxe ao bojo da modernidade a incerteza, aquela incômoda sensação de haver algo, em algum lugar, mais interessante do que o que estamos assistindo.
Diante de uma oferta de 96 canais, é difícil contentar-se com “Super Petroleiros” (NatGeo), quando em outra emissora pode haver “Le Haim” (TV Aberta), “Eu Não Sabia que Estava Grávida” (Home & Health) ou “Walking Dead” (Fox).
O controle remoto popularizou o verbo zapear e o costume de dar a volta na programação. Às vezes, o sujeito é impaciente e vai atropelando tudo, até que vislumbra algo de seu interesse. O problema é que, em geral, a cena já foi engolida por uns vinte canais, e o mais fácil é dar a volta de novo.
A única pessoa que escapa a esse hábito tele-hiperativo é a minha mãe, que gosta de “dar uma chance” para todo e qualquer curta-metragem indonésio em que um sujeito demora 15 minutos para atravessar o deserto, enquanto entoa um mantra.
E nem é preciso estar assistindo algo mediano para ter vontade de espiar o que está passando alhures: é comum perdermos uma boa reprise de “Seinfeld” (Sony) só por causa de uma coceirinha que nos faz dar toda a volta, passando por “Bonanza” (TCM) e “Roda a Roda Jequiti” (SBT), aterrissando, exaustos, no indefectível “Medalhão Persa”, um porto seguro para onde retornamos após longa e extenuante jornada.