Folha de S. Paulo – revista sãopaulo
19 de dezembro de 2010 – 12h02
por Vanessa Barbara
Para as tartarugas Napoleão e Jacinto,
Quando 2010 começou, vocês eram do tamanho de uma moedinha. Chegaram assustadas, com as cabeças encolhidas pra dentro do casco, e dormiam o dia inteiro. Achei que o ano seria assim, tartaruguento.
Mas logo vocês foram tirando os narizes pra fora e conheceram o sol, o sashimi, a água morna e a gula sem limites. Aprenderam a comer cocô. Começaram a crescer, a bocejar acintosamente e a passear pela casa.
No ano de 2010, Jacinto passou três semanas sem comer, descobriu a dor de barriga e ficou gripado. Napoleão virou de ponta-cabeça, entalou debaixo da geladeira e tentou comer as plantas de plástico.
Ambas fizeram contatos imediatos com um sabiá, um mosquito e a tartaruga Moisés. Foram apresentadas à pitanga, à formiga, ao filé de pescada e à banana, além de experimentarem o dedo das visitas.
Um ano depois, vocês estão mais parecidas com calotas de Fusca. Sabem derrubar o termostato para chamar a atenção e protegem os olhos com a pata quando alguém acende a luz.
Em 2010, Jacinto descobriu que era fêmea. Napoleão, o contrário.
Assim sendo, gostaria de desejar um 2011 mais tranquilo para os meus quelônios.
VANESSA BARBARA, autora de “O Livro Amarelo do Terminal”, é colunista de TV da Folha