Ignorado no Brasil, o reality show “The OCD Project”, do canal VH1, agrupou seis pessoas com formas severas de TOC (transtorno obsessivo-compulsivo, OCD em inglês) para fazer um tratamento de três semanas numa casa.
Em oito episódios, o dr. David Tolin, diretor do Centro de Transtornos da Ansiedade do Hospital de Hartford, submeteu seus pacientes a uma terapia de exposição radical, com base no método cognitivo-comportamental.
Arine, de 25 anos, sofria de germofobia (medo de se contaminar). O dr. Tolin a fez comer um bolinho embebido em água de privada. Kristen, de 28 anos, tinha a mesma doença, e acabou entrando numa piscina com xixi.
Tracy temia que seu filho morresse de câncer, e por isso efetuava rituais de acender e apagar luzes. O terapeuta simulou o enterro do menino e mandou-a discursar em sua memória.
Compreende-se que o programa seja ignorado por aqui, e com razão. O médico é arrogante e leva jeito para celebridade. A proposta de curar pacientes em pouco tempo e com exposições extremas (passar um tempo na prisão, lamber a sola dos sapatos) os prejudica unicamente em favor do espetáculo.
Mas há momentos interessantes: a primeira tarefa dos confinados é descrever à exaustão seus maiores medos e estimar a possibilidade real de que aconteçam. O exercício se destina a dar as devidas proporções aos temores e preconizar uma sensibilização a eles, lenta e gradual.
Outro ponto alto é mostrar o processo de habituação à fobia. Na série, isso se resume a uma única cena: Arine mergulha as mãos em chorume e as leva ao rosto. “Qual é o seu nível?”, pergunta Tolin, referindo-se a uma escala de ansiedade. Ela começa com 100, depois desce para 80 e de repente está em 35. “Isso é habituação”, ele explica. “Parabéns”.
Arine também é a protagonista da melhor cena da temporada. Outro de seus pavores é o medo de atropelar pessoas, e por isso ela tem a mania de dar voltas e voltas com o carro para se certificar de que está tudo bem. Tratamento: enquanto ela dirige, o doutor vai atirando no para-brisas um monte de bonecas, cabeças de plástico e muletas, gritando: “Oh, meu Deus! Ela atropelou um bebê! Oh, meu Deus!”.
Não sei bem se a Anistia Internacional aprovaria.