No último dia 18, estreou na Band o programa “Acredite se Quiser” (sex., 22h15), um show de variedades baseado no americano “Ripley’s believe it or not”.
No Brasil, a atração fez sucesso nos anos 80, quando foi exibida pela Rede Manchete sob a apresentação do ator Jack Palance. Com a maior calma do mundo, ele mostrava reportagens sobre assuntos insólitos, como um menino-bolha, ursos ginastas e verduras gigantes.
A versão da Band é produzida pela Sony e traz apenas casos americanos. O episódio de estreia mostra um homem com uma faca de 28 cm enterrada no crânio, uma cadela bassê que acredita ser mãe de três telefones sem fio, um artista que completou uma réplica da Torre Eiffel com os próprios dentes e um sujeito que andou numa corda bamba entre dois edifícios de vinte andares.
Na série brasileira, tem-se a impressão de que todos os vídeos foram feitos em 1988. O equilibrista não causa o menor espanto, até porque, já em 1974, Philippe Petit atravessou as Torres Gêmeas do World Trade Center num cabo de aço, a uma altura de 400 metros.
A comedora de minhocas e o homem que desafia um jacaré também parecem saídos do século dezenove, sendo facilmente ultrapassados por uma visita ao You Tube, ao Google ou à enciclopédia “O Mundo Pitoresco” (Jackson Ed., 1944).
Há algo ainda pior nesta versão de “Acredite Se Quiser!”: o alarmismo. Um tom sensacionalista e espetacular domina a narração, desnecessariamente adjetivada, numa tentativa de prefigurar a reação do espectador.
O primeiro caso é “apavorante”, diz o narrador: um homem “malvado” enfiou uma “faca do Rambo” no crânio de outro e houve uma cirurgia “perigosa”. A palavra “inacreditável” é repetida às dúzias, bem como “glorioso”, “grotesco” e “espetacular”. As minhocas engolidas pela dançarina são “nojentas, escorregadias, molhadas e pegajosas”.
A toda hora, recomenda-se que o espectador “não faça isso em casa”, embora seja improvável que alguém tente enfiar uma faca serrilhada no próprio crânio.
É uma diferença considerável do programa original, em que Palance (dublado por Darcy Pedrosa) apresentava as histórias com uma voz calma, neutra e indiferente. Na Band, o apresentador Felipe Folgosi só falta comer minhocas.