Se há um papel que o ator Morgan Freeman sabe fazer é o de velho sábio com voz firme e comportamento sereno, bússola moral da sociedade, “voice over” da existência.
Em “Conduzindo Miss Daisy”, ele fez um motorista do tipo humilde que tira valorosas lições de vida de seu passado criando porcos. Em “Um Sonho de Liberdade”, fez um condenado endurecido pelo sistema, porém capaz de se entregar a uma amizade verdadeira.
No cinema, já aconselhou Robin Hood, Batman e Clint Eastwood, foi o presidente americano em “Impacto Profundo”, Nelson Mandela em “Invictus” e o próprio Deus em “Todo-Poderoso”.
Morgan Freeman, que aparentemente nunca foi jovem, instila uma esperança profunda advinda da experiência. Nada mais natural, portanto, que ele fosse o escolhido para apresentar o programa “Grandes Mistérios do Universo”, do Discovery Science (seg. às 21h), considerando-se que ele já entendeu tudo, há muito tempo.
Nesta série inédita de documentários, ele aborda as grandes incógnitas da existência, sob a ótica de novas teorias em astrobiologia, astrofísica e mecânica quântica. Tudo isso num tom duro, porém paternal, como nesta consideração sobre o Big Bang: “Como vamos saber se foi assim mesmo? Afinal, ninguém estava lá para ver”. As explicações científicas se alternam com lembranças de sua infância, com destaque para uma adorada fazendinha de formigas que ele criava no quarto.
Amanhã, serão abordados os buracos negros, que, segundo novas hipóteses, podem não passar de hologramas em duas dimensões na borda do universo. Nos programas anteriores, nosso velho sábio já discutiu a possibilidade de viagens no tempo, a existência de Deus e a criação da vida, destilando um farto número de hipóteses sobre quem somos, de onde viemos e o que existe para além da Terra.
A segunda temporada, que começa dia 8 nos EUA, terá um episódio de estreia sobre vida após a morte, seguido de discussões sobre a aparência dos aliens e a imortalidade.
Por algum motivo, a série não me convence – talvez porque, ao deixar inúmeras questões em aberto, ela tenta desviar o espectador de uma única certeza: Morgan Freeman já sabe tudo, e não há mais espaço para dúvidas. Nós somos as suas formigas.