A despeito da zombaria generalizada e perda total de reputação entre os meus pares, sempre gostei de “Gilmore Girls” (no Brasil, “Tal mãe, tal filha”, SBT, qua., 3h e Boomerang, ter. a sáb., 2h). É uma série corajosamente tola que durou de 2000 a 2007 e está disponível em 42 DVDs, sempre em liquidação.
A trama fala de uma jovem mãe solteira, Lorelai Gilmore, e de sua filha Rory. Ambas moram no pitoresco vilarejo de Stars Hollow, onde convivem com uma gama de personagens excêntricos – entre eles, um trovador residente, um cachorro chamado Paul Anka, um rapaz que aceita todos os empregos da cidade e um conselheiro municipal dado a longuíssimas e absurdas reuniões comunitárias.
Ao que tudo indica, a criadora Amy Sherman-Palladino (ao lado do marido, Daniel Palladino) parece seguir os preceitos do cineasta Billy Wilder, que mandava os atores refazerem as tomadas numa velocidade duas vezes maior: “Me dê uma alegria, corte uma semana dessa cena”.
Os diálogos de “Gilmore Girls” são torrenciais, ininterruptos e fazem parecer que todos injetaram cafeína no sangue. Os roteiros da série têm quase o dobro do tamanho normal, com uma página de texto por minuto.
Além da prolixidade e do vício por café, as garotas Gilmore dividem um gosto cinematográfico amplo e duvidoso, promovendo sessões comentadas de filmes diante de uma mesa cheia de comida. “Não sei por onde começar”, confessa Rory, ao que a mãe aconselha: “Bem, comece pelo topo e pare quando atingir a mesa.”
Num episódio típico, um maluco local decide protestar na praça, mas ninguém consegue entender sua demanda. “Acho que escutei ‘geleia’…”, alguém arrisca. “Ele é contra ou a favor de geleia?”, perguntam. O doido estende uma faixa com algo que começa com R, e alguém grita: “Ragu!”.
Como diz Lorelai, a realidade não tem chance em Stars Hollow.
Outro ponto alto são os monólogos da personagem ao se sentir constrangida, como num jantar de família em que ela inventa a frase foneticamente mais engraçada do idioma, “Oy with the poodles already”. Ou quando interage com Luke, o dono da cafeteria: “Eu quero um hambúrguer, anéis de cebola e uma lista de gente que matou os pais e saiu impune. Estou em busca de heróis”.