Foi com o meu pai que aprendi a importância de assistir grandes partidas de futebol mambembe, como Santacruzense vs. Penapolense, pela série A3 do Campeonato Paulista.
Foi através dele que descobri o programa “Jogos Perdidos” (ClicTV, ter., 10h), mantido por meia dúzia de abnegados que pegam a estrada para ver clubes desconhecidos em campeonatos regionais obscuros, registrando-os num blogue.
A equipe do JP costuma prestigiar times com 100% de aproveitamento negativo, desses que, no jogo inteiro, dão apenas um chute no gol, “e mesmo assim sem direção”. Recostados ao alambrado e enchendo a cara com Guaraná Poty, fotografam os lances de atletas chamados Pomarola, Papão, Alamir e um atacante de uniforme azul que atende pela alcunha de Amarelo.
“O jogo foi assustador em ruindade. No primeiro tempo, a maior emoção foi tentar achar um saleiro para salgar a pipoca, que estava horrorosa”, postou um dos membros. Mas não é sempre assim.
Acompanhar o futebol mambembe é uma lição de caráter que nos faz refletir sobre a pequenez das glórias mundanas e a importância de se esperar a autorização do juiz antes de irromper pela linha lateral, desgovernado, como fez um reserva do Elosport em partida contra o Capivariano pela Segunda Divisão do Paulista.
Para além dos “Jogos Perdidos”, há as clássicas transmissões da Rede Vida aos fins de semana, com ótima narração de Luiz Carlos Fabrini, que no final agradece ao Senhor por existir e aos espectadores pela agradável companhia. Há closes recorrentes da arquibancada semivazia, de um vira-lata sarnento e de um grupo de tiozinhos de moletom, logo atrás de uma placa do Açougue e Mercado Chicão.
A partir de maio passado, quem também entrou de sola no futebol de várzea é a TV Cultura, que aos domingos às 13h exibe as partidas amadoras do Campeonato Estadual de Seleções – Ligas Municipais.
Na semana passada (Araraquara vs. Serrana), houve até um espetacular passe de calcanhar. Mas a narração ainda está engessada e merecia uma boa reportagem prévia – informando ao leigo, por exemplo, quem é e o que pensa o atleta Zoião, qual a profissão de Weltinho, quantas vezes por semana treina o escrete de Votuporanga e se tem coreto lá em Jaboticabal.