O tema desta coluna ia ser outro, mas o recente anúncio da morte de Peter Falk (dia 23, aos 83 anos) foi a desculpa perfeita para promover uma maratona doméstica de “Columbo”, a melhor série de TV com protagonista zarolho. (Embora “Popeye” não fique tão atrás.)
O tenente Columbo é um detetive aparentemente simplório, amarfanhado e irritante da polícia de Los Angeles. A série segue o formato da “história de detetive invertida”, em que o espectador vê o crime ocorrer e sabe de antemão quem é o culpado, cabendo ao herói juntar as pistas e pegá-lo.
Os episódios têm longa duração, estendendo-se por até 90 minutos. É o tempo necessário para que os roteiristas possam desenvolver a investigação sem pressa, embaralhar as pistas, encurralar o pobre suspeito e encafifar o público quanto ao método escolhido por Columbo para pegá-lo.
Pouco a pouco, após ir embora e reaparecer várias vezes, lembrando-se de “só mais uma perguntinha”, o policial vai expondo as incongruências do álibi, até que o assassino não tenha outra saída senão se entregar.
As soluções encontradas pelo detetive são por vezes geniais, como num episódio em que ele desmascara um homicídio por meio do laço de sapato da vítima. Ou quando encontra uma carta incriminadora em que o culpado destaca o selo de forma descuidada, guardando a cartela na própria escrivaninha – neste caso, um legítimo jogo de encaixar.
Morro de vontade de saber qual o método usado pelos roteiristas para estruturar os scripts e, na falta de detalhes, fico tentada a “columbar”. É provavelmente uma escrita do tipo “de trás pra frente”, mas, nesse caso, o crime é só o início; o flagrante é que é o final. Imagino que eles devam procurar em primeiro lugar uma sacada investigativa, como a pista dos cadarços ou do selo, e desenvolver o crime a partir daí.
Conta-se que a equipe perseguia meticulosamente esses tais “estalos” investigativos (no original, “pops”), e que o próprio Falk se tornara obcecado por eles – a ponto de, certa feita, pedir que todos no estúdio da Universal tirassem as calças, só para checar que perna eles tiravam primeiro.
E toca inventar um crime passível de ser solucionado pela ordem das pernas fora das calças.