Folha de S. Paulo – Ilustrada
25 de setembro de 2001
por Vanessa Barbara
No dia 16, estreou no Brasil o filme “Glee 3D”, que conta os bastidores da turnê musical dos protagonistas da série pelos EUA.
Prenunciando o fracasso de bilheteria, o astuto produtor soltou um comunicado à imprensa supostamente escrito pela vilã Sue Sylvester, treinadora das cheerleaders e arquirrival do clube de canto que dá nome ao show.
“Diga não a essa experiência cinematográfica insignificante”, ela bradou. “Seu rosto vai derreter e seus filhos irão chorar sobre o cadáver desfigurado”.
De forma absolutamente inadequada, lembrei do escritor Jorge Luis Borges, que clamava o direito de escrever uma crítica impiedosa contra si mesmo, pois ninguém conhecia melhor seus defeitos.
Egocêntrica e mesquinha, Sue Sylvester é um dos acertos da série, com suas tiradas difamatórias, o invariável abrigo de ginástica e o costume de empurrar as crianças no corredor.
Ela forma um complemento perfeito à sinceridade tocante do diretor Figgins, capaz de dizer coisas como: “Infelizmente, Fulano não pôde comparecer por desinteresse”.
Certa vez, ele anunciou nos alto-falantes: “Em primeiro lugar, os alunos que comeram o ravióli hoje e não estão em dia com a vacina de tétano devem ir à enfermaria imediatamente”.
Sue Sylvester não perde em franqueza – ela é autora do best-seller: “Eu sou uma campeã e você é gordo” e gosta de se referir aos membros do Clube Glee como “aqueles perdedores que brincam de druidas e gnomos”.
Seu método pedagógico se traduz num “estado de medo constante, um ambiente de terror irracional e aleatório”. Seu bordão: “Vocês acham isso difícil? Experimentem a tortura por afogamento”.
Num momento de ternura, ela confessa que não deseja fazer as pazes com Will Schuester, mas golpeá-lo com uma pá.
Anota todos os planos malévolos num diário, como quando falhou em trocar as cadeiras da escola por traves afiadas, “numa retumbante derrota em minha guerra contra sentar”.
Uma de suas pérolas: “Se você atrasar um minuto, irei ao abrigo de animais e lhe trarei um gatinho. Deixarei que você se apaixone pelo filhote. E aí, numa noite escura e fria, invadirei a sua casa só para surrá-lo”.
Chega de vilões sentimentais. O mundo precisa de uma nova Cruella Cruel.