Folha de S. Paulo – Ilustrada
02 de outubro de 2011
por Vanessa Barbara
Quando me disseram que “problemas com zebras” atrasaram o início do treino livre de Fórmula 1, na sexta-feira passada, decidi que era hora de finalmente assistir ao Grande Prêmio de Cingapura, pela Globo (dom. às 9h).
Qual foi a minha decepção ao saber que as tais zebras não eram os equídeos listrados de temperamento pacífico e olhar perdido que todos nós conhecemos e amamos, trotando desvairadamente em direção ao grid de largada, mas as faixas pintadas que margeiam as curvas do autódromo.
A desilusão esportiva não parou por aí: logo de início, Galvão Bueno informou que um carro iria “abrir as asas”. Ninguém saiu voando.
Ele se referia ao aerofólio traseiro no formato de asa invertida que, quando acionado, confere maior velocidade na ultrapassagem minimizando o chamado “downforce”, que grudaria o automóvel ao chão em vez de fazê-lo decolar.
A Fórmula 1 é um esporte anticlimático. Ninguém voa e não há zebras na pista.
Embora o Circuito de Marina Bay seja noturno e urbano, com a cidade estonteantemente iluminada à beira de uma baía, e ainda que os pilotos trafeguem pela contramão e no corredor de ônibus, o evento em si não tem muitos atrativos para quem esperava a corrida de bigas do “Ben-Hur”.
É uma competição de automóveis milionários andando em círculos milionários, enquanto na tela surgem dados de velocidade, distância e número de voltas.
Nos bastidores, há uma infinidade de velhos alemães e moças loiras com calças justas de oncinha, além de alarmados homenzinhos acolchoados que trocam pneus em 2,9 segundos – de quem, aliás, gosto muito.
Gosto também dos sujeitos de macacão que entram correndo para tirar pedaços de carros recém-acidentados. Gosto quando o carro de segurança entra na pista e, comportados, os pilotos fazem filinha atrás dele e andam em ziguezague, com a intenção secreta de irritar quem vem atrás.
Foram duas horas de considerações sobre a estratégia dos pneus e só uns poucos comentários sobre o equilíbrio mental de Lewis Hamilton, que, para Galvão Bueno, é hoje um caso de psiquiatria.
“Ele literalmente tem perdido a cabeça dentro do carro, não tem outra explicação”, diz o locutor, e eu quase caio do sofá.