Folha de S. Paulo – Ilustrada
16 de outubro de 2011
por Vanessa Barbara
Pouco conhecida no Brasil, a série de detetives “Inspetor Morse” é um clássico da TV inglesa. Teve a duração de treze anos (de 1987 a 2000), com um total de 33 episódios e 81 vítimas.
À maneira de “Columbo”, cada investigação é um longa-metragem de 1h40, tempo suficiente para o detetive conduzir o caso de forma morosa e improcedente, parando para beber em todos os pubs de Oxford e seguindo pistas absurdas.
Nessa série, é comum passar um episódio inteiro desvendando um homicídio que parecia suicídio – persegue-se o culpado com fervor, provas são encontradas, uma prisão é feita. Por fim, o inspetor chega à conclusão de que a vítima havia se matado mesmo.
O fator anticlimático é tão perturbador quanto original, num gênero televisivo que se tornou cada vez mais cartesiano. Os roteiros, por vezes confusos, trazem informações desencontradas e subtramas desnecessárias. Há peças que não se encaixam. Muitas pistas não levam a nada, enquanto outras hipóteses são abandonadas bruscamente e jamais retomadas.
O inspetor-chefe Endeavour Morse (o prenome vem do navio do capitão Cook e quer dizer “esforço”) é interpretado por John Thaw, um senhor circunspecto de cabelos brancos e olhos azuis que, segundo o próprio, aparenta ter 50 anos desde que nasceu.
Saído dos romances policiais de Colin Dexter, Morse é ríspido e presunçoso. “Sou velho, solteiro e não entendo a natureza humana”, diz. É fã de ópera, tem gostos refinados, bebe sem parar e aprecia palavras cruzadas.
Sua falta de traquejo social é evidenciada no episódio “Twilight of the gods”, quando ele pergunta pela primeira vez como vão a esposa e filhos do sargento Lewis, seu parceiro desde sempre.
No Brasil, “Inspetor Morse” chegou a passar no Multishow e até há pouco tempo constava da grade do canal Film & Arts. Em 2007, anunciou-se um “spin-off” com o parceiro de Morse no papel principal – “Lewis” já está na sexta temporada.
Um dado curioso: reparem na bela música incidental e no tema da série, criados por Barrington Pheloung. Nos acordes da flauta, pode-se distinguir uma palavra dita em código Morse: o nome do protagonista, Morse. Em certos casos, a flauta também revela o nome do assassino.