Folha de S. Paulo – Ilustrada
Especial 35a. Mostra de Cinema
25 de outubro de 2011
por Vanessa Barbara
No sábado à tarde, uma procissão de intelectuais trilhou o caminho entre o Conjunto Nacional e o Espaço Unibanco da rua Augusta. Eram órfãos do longa turco “Era uma vez na Anatólia”, um dos destaques da Mostra, cujos ingressos para a sessão noturna haviam se esgotado.
Alguns seguiram para o Cinesesc, onde, dizia-se, ainda havia lugares para ver “Sobre futebol e barreiras”. Os mais audazes foram ao Unibanco tentar a sorte com “A ilusão cômica”, do francês Amalric – impressionante adaptação de uma peça de Corneille em que um pai acompanha a vida do filho que fugiu de casa.
Houve certa confusão do público diante do original em francês com legendas embutidas em inglês e dessincronizadas em português. “Quem é que matou? Foi o narigudo?”, cochicharam.
A perplexidade foi tamanha que, ao fim da projeção, ouvi um único comentário: “Ai, perdi o meu porta-moedas… onde é que foi parar?”.
Esse mesmo sujeito, confrontado com o caudaloso guia da mostra, chegou a desabafar: “É tanto filme que não dá nem pra escolher… Então melhor não ver nenhum”.
Exaustos, os que ficaram sem ingresso encontraram alento numa banca de DVDs nas imediações, que vendia cópias piratas dos próprios filmes da mostra. A seção dos clássicos era administrada por um cinéfilo flautista e mágico amador.
“Do Fellini eu tenho estes”, explicou. “Mas, se você gostou daquele, vale a pena ver o do Anthony Quinn, que segue essa mesma linha de intensidade dramática.”