Folha de S. Paulo – Ilustrada
Especial 35a. Mostra de Cinema de São Paulo
2 de novembro de 2001
por Vanessa Barbara
Não sei se alguém reparou, mas a Mostra de Cinema deste ano tinha uma temática soporífera: havia 4 filmes com “sono” no título, isso sem contar os que falam de pesadelos e estado de coma. Ou “aqueles em que, no fim, era tudo um sonho”, observou um cara na fila.
Um exemplo é “A Doença do Sono”, do alemão Ulrich Köhler, sobre um médico que vai estudar a tripanossomíase na África. Destaque para a cena em que um paciente cochila durante o diagnóstico e para a já clássica referência aos hipopótamos – embora o ponto alto seja o ar entorpecido dos personagens.
Também temos “O Homem Que Não Dormia”, do brasileiro Edgard Navarro, um filme com ares de Cinema Novo que se passa num lugarejo no interior da Bahia, onde os moradores têm de lidar com um forasteiro esquisito e com a lenda de um tesouro escondido por um barão desencarnado.
Ninguém dorme no filme, exceto um ou dois espectadores, entediados com o excesso de cenas místicas e escatológicas.
Também ouvi um sonoro ronco em “Histórias da Insônia”, elogiado filme de Jonas Mekas, 88, artista radicado em Nova York que não consegue dormir e sai à cata de coisas bonitas. Há belas cenas (“Ó caracol,/ Escala o Monte Fuji/ Mas devagar, devagar!”), ainda que várias sequências sejam maçantes.
Já o irlandês “O Outro Lado do Sono” não chegou a tempo para a exibição na Mostra. Em seu lugar, entrou “Projeto Nim”, documentário sobre um chimpanzé que agradou até a sonolenta senhora da legendagem – que foi vista cabeceando em várias ocasiões.