Da caverna à calçada

Postado em: 4th novembro 2011 por Vanessa Barbara em Crônicas, Folha de S. Paulo
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Folha de S. Paulo – Ilustrada
Especial 35a Mostra de Cinema de São Paulo
4 de novembro de 2011

Marcos Dávila e Vanessa Barbara comentam o que guardar e o que esquecer do festival


Na repescagem, que vençam os mais rápidos nas filas

MARCOS DÁVILA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sessão das dez
“Raul – O Início, o Fim e o Meio”, dirigido por Walter Carvalho, estreou em duas salas ao mesmo tempo. Só assim para comportar os fãs de Raul Seixas, que já faziam cantoria na fila.

Toca Raul
Um amigo músico definiu bem a sessão da cinebiografia: uma sala para os VIPs e outra para os hippies. Adivinhem em qual eu estava?

Horrorshow
Na saída de uma das exibições da cópia restaurada de “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, soou a voz da juventude: “Cê acha que eu vou pagar uma bica pra ver francesinho moderno? Eu vou é ver os clássicos”.

Iranianos em extinção
Consegui finalmente puxar um aplauso. Foi em “Isto Não É um Filme”, de Mojtaba Mirtahmasb e Jafar Panahi, presos no Irã. Olhos abertos para os também cineastas iranianos de “Olhando Espelhos” (Negar Azarbayjani), “Cut” (Amir Naderi) e “Um.Dois.Um” (Mania Akbari).

Salve a seleção
Uma cinéfila deu o prêmio “miss simpatia” ao sérvio “Montevidéu – O Sonho da Copa”, que mostra a luta da seleção iugoslava para participar da primeira Copa do Mundo, em 1930, no Uruguai. O filme termina antes do torneio, mas ela não resistiu e foi pesquisar o desempenho dos jovens de Belgrado. Não é que eles desclassificaram nossos canarinhos? E o primeiro gol foi de Tirk, protagonista do longa.

Ainda é tempo
Está dada a largada para a repescagem da Mostra (confira a programação de hoje em quadro abaixo), que segue até a próxima quinta-feira. Prepare-se para chororô e para ranger de dentes nas filas. Que vençam os mais rápidos.


Entre diálogos perspicazes e acepipes salgados no bolso

VANESSA BARBARA
COLUNISTA DA FOLHA

Diálogo
“Qual é o filme que vai passar agora?”
“‘Sindicato de Ladrões’.”
“É brasileiro?”

O mais tolo
Leva esse troféu o longa “Como Começar Seu Próprio País”, de Jody Shapiro, sobre micronações que não estão no mapa, como a Seborga e o Principado de Sealand.

A melhor sinopse
É de “Jimmy Rivière”, de Teddy Lussi-Modeste: “Pressionado pela comunidade, jovem cigano se converte ao pentecostalismo e tem de abandonar seu amor e o boxe tailandês”.

Frase
“Esse negócio de Mostra é de matar o paulistano. Você vai e nunca tem ingresso.”

Inquietante
Numa reviravolta inesperada, os titulares desta coluna não se encontraram nenhuma vez durante o festival. Foi como se participassem do mesmo evento, só que em dimensões diferentes.

Má ideia
Entrei em uma sessão de “Histórias da Insônia”, de Jonas Mekas, com certa antecedência e com um brinquedo musical que comprara para um aniversário -uma tartaruga de plástico com 42 melodias. Quando me sentei, a geringonça disparou. Meus colegas de fileira tentaram tirar a pilha, sem sucesso, e a senhora da legendagem chegou a oferecer uma chave Phillips para resolver a operação.

Melhor acepipe
Nos cafés das salas participantes desta edição da Mostra de Cinema, o salgado custava em média R$ 5 e o pedaço de bolo, R$ 6. O melhor acepipe foi mesmo o de um camelô: o pão de queijo sem queijo, com 0% de lactose, glúten e gordura animal.