Folha de S. Paulo – Ilustrada
6 de novembro de 2011
por Vanessa Barbara
Um leitor identificado apenas como “Nunes” sugeriu que acompanhássemos uma sessão ordinária na TV Senado – o pedido foi específico, já que a TV Assembleia costuma deixá-lo nervoso. Algo a ver com a indumentária dos nobres colegas, que usam “terno cor de pensamento de esquilo com camisa verde e gravata dourada. Nas entrevistas com deputados sentados, terno com um só botão fechado e vinte centímetros de meias aparecendo”.
Mal sabia Nunes que esta colunista já fez uma maratona de 24 horas de TV Assembleia para uma revista, e que o ponto alto dessa experiência foi um debate sobre inspeção veicular em que um deputado declarou: “A prioridade mais prioritária exclui a prioridade menos prioritária. Isso é lógico. É elementar”.
Desta vez, foi diferente. A TV Senado é mais sóbria, menos histriônica e possui uma média irrisória de dedos em riste, embora existam figuras recorrentes de grande carisma, como Eduardo Suplicy, e momentos em que o som do microfone é cortado, para desespero do nobre colega de pé na tribuna. As preleções são pródigas em termos pomposos como “celeridade” e “aquiescência”.
Já a TV Câmara é dramática – há ênfase e indignação nos depoimentos e um deputado que, se não me engano, discursa num esquema rítmico shakespeariano semelhante ao pentâmetro iâmbico.
O consumo de água é elevado, bem como a utilização de banda larga para envio de mensagens SMS, sobretudo durante a votação – quando é comum todos darem as costas e se engajarem num animado bate-papo paralelo. Nesta terça-feira pré-feriado, o deputado Romário subiu na tribuna só para tecer loas ao esporte nacional e agradecer à Rede Record por tê-lo contratado como comentarista nos Jogos Pan-Americanos.
Outro parlamentar fez uma defesa inflamada à Associação Nacional dos Produtores de Alho. Um terceiro pediu que os deputados favoráveis a certo projeto permanecessem no lugar a fim de aprová-lo, seguindo ao deferimento do mesmo sem que ninguém precisasse sequer levantar o dedo.
Há reviravoltas, brigas e abotoaduras lustrosas, assim como na TV Assembleia, plena de dedos em riste, discursos empolados e gente que se perde na hora de falar.
É como um esquete do Monty Python, só que não tem graça.
fazia tempo que não te lia :)