Folha de S. Paulo – Ilustrada
14 de novembro de 2011
por Vanessa Barbara
No último dia 10, o humorista Marcelo Adnet entrevistou José Luiz Datena no “Adnet ao Vivo” (MTV, qui. às 22h30). Mais uma vez, repetindo o que houve no bate-papo com Marília Gabriela (ver coluna de 9/10/2011), Datena comandou a entrevista, chegando inclusive a chamar o intervalo no lugar do seu anfitrião.
Desta vez, ele declarou que “não adianta tentar fingir na televisão”, pois não dá pra enganar o público por muito tempo – pretendendo, com isso, atestar sua franqueza. Abordado por um entrevistador nervoso e inexperiente, deitou e rolou: a propósito de uma cadeira, começou falando de Le Corbusier, depois engatou nos seus gostos artísticos (música clássica e blues) e citou Robert Johnson, que teria vendido a alma ao Tinhoso em troca da habilidade de tocar violão.
Nos últimos meses, Datena tem se dedicado a conceder entrevistas supostamente sinceras em que se declara um homem infeliz. Elogia o interlocutor, confessa ter sido um pai ausente e marido infiel, diz que é de esquerda e que lê Schopenhauer.
Ao garantir que não faz o que gosta, defrontou-se com o bom-senso de Adnet, que, à diferença de Marília Gabriela, perguntou por que então o apresentador não mudava de ramo. “Porque sou obrigado a fazer, porque ganho uma puta grana”, explicou o entrevistado, um tanto confuso, garantindo que seria demitido caso propusesse na Band um tipo de programa mais do seu gosto, como uma atração de auditório.
Não me convenceu, mas “Adnet ao Vivo” é tão curto que mal dá tempo de duvidar. O formato é caótico e desperdiça o talento do humorista, que, com tantas tarefas a cumprir, se vê obrigado a negligenciar não só o entrevistado como a banda convidada (na ocasião, O Teatro Mágico).
Pior: não sobra espaço para o que interessa, que são seus momentos de falta de assunto, as improvisações musicais e imitações de personalidades, como a que fez de Galvão Bueno narrando o UFC (Ultimate Fighting Championship) e do próprio Datena, com seu sotaque e mania de trocar o M pelo B. “Hobens e bulheres de todo o país, eu quero ibagens”, pede Adnet. “Me dá ibagens!”
Teria sido interessante ver um quadro sobre os alarmes falsos de Datena no ar, quando ele diz que algo “está parecendo uma bomba pra mim… É uma bomba! Não vai lá não, César!”. E, trinta minutos depois: “Que bom que era apenas uma sacola vazia”.
Ou então quando Datena solta: “Cobandante Habilton, onde você está nesse bobento? Cobandante? Você tá assistindo jogo de futebol do helicóptero, cobandante?!”.
E a mais clássica de todas: “Congela o Ulisses! Congela o Neto! Congela o Ceará! Me congela também que nós vamos para o futuro!”.