Blog da Companhia das Letras
7 de dezembro de 2011
[Texto escrito por Liberty Hardy para o site BookRiot e reproduzido aqui com autorização. Tradução de Vanessa Barbara.]
No subsolo de uma igreja unitarista em Portland, o escritor Chuck Palahnuik se dirige a um grupo de pessoas sentadas em cadeiras dobráveis. Na parede, fotos de Albert Camus e Aleksandr Solzhenitsyn. Estou parada no fundo da sala, junto à mesa do café, sondando o ambiente. Consigo identificar vários dos participantes: Chimamanda Ngozi Adichie, Abraham Verghese, Eoin Colfer. Trata-se de uma reunião dos Grandes Nomes e Obras, ou GNEO — um grupo de apoio para escritores com sobrenomes difíceis de pronunciar.
Palahniuk é uma escolha óbvia como líder do GNEO, não só porque no passado trabalhou no transporte de pessoas que frequentavam grupos de apoio como este, mas porque ele próprio costuma ter seu nome deturpado. Naquela manhã, nos falamos pelo telefone, enquanto acertávamos os pormenores da minha cobertura do evento. “Você se entrega de coração ao trabalho durante dias, meses, anos, e fica feliz com o resultado. Ganha prêmios, torna-se um autor de best-sellers, namora modelos. E então alguém põe tudo a perder errando a grafia do seu nome”, ele me disse. “Você é o seu trabalho. Se as pessoas não conseguem sequer pronunciar corretamente o seu nome, o que isso diz de você? É tão frustrante”.
Vou acompanhando a apresentação de cada um dos escritores presentes, que articulam os próprios nomes com cuidado e compartilham testemunhos. “Ganhei o Prêmio Nobel de Literatura”, declarou a poeta Wislawa Szymborska, “e eles ainda não conseguem acertar o meu nome”.
“Aquele palhaço do Matt Lauer arruinou a minha estreia em rede nacional”, disse Slavoj Zizek. “Tive que me segurar para não largar o microfone e ir embora”.
É a primeira reunião de Siddhartha Mukherjee. “Ainda não me acostumei com o nível de exposição após o anúncio do Pulitzer. É um alívio saber que não estou sozinho”, declara.
Há uma única interrupção, quando um senhor grisalho de olhar bondoso abre a porta. “Não, não, DeLillo”, diz Palahniuk. “Você está procurando a ViFraCoDe, na sala ao lado”. O escritor agradece e fecha a porta. (“ViFraCoDe?”, perguntei a Palahniuk mais tarde. “Viciados em Frases Compridas e Desconexas”, ele explicou.)
Após os testemunhos, juntei-me aos participantes. “As pessoas sofrem com isso desde que existem escritores”, conta Raefel Yglesias.
“Como Ayn Rand?”, eu pergunto.
“Não falamos sobre esse assunto”, ele me sussurra.
Um membro do grupo, que pediu para permanecer anônimo, diz invejar autores com sobrenomes fáceis, como “Waters” ou “Roth”. “Joe Hill? Quer dizer, como assim? O nome inteiro dele só tem duas sílabas”, ele zomba. “E Sara Gran? Claro, seus livros são ótimos, mas ela não sabe o que é sofrimento!”
“Se é tão frustrante assim, por que não trocam de nome?”, eu pergunto, e de imediato a sala cai num silêncio mortal. O grupo me encara como se eu tivesse pedido para urinar no adorado bicho de estimação da família. Chris Bohjalian sorri com desprezo. Ninguém mais fala comigo pelo resto da noite, e a reunião é encerrada pouco depois. O que é bom, pois acho que alguém batizou o ponche. Aposto que foi o Duane Swierczynski.
Sorte que você é Barbara.