Folha de S. Paulo – Ilustrada
10 de janeiro de 2012
por Vanessa Barbara
Tarde do dia 64. As câmeras focalizam Space, que está fumando um cigarro na estufa de plantas. Marky e Veronica tomam sol na piscina. Joplin e Pippa estão no sofá, conversando.
“Quer dizer, o que é a televisão?”, filosofa Joplin, enquanto a companheira de confinamento pinta as unhas dos pés. “É apenas uma grande seta apontando para longe do problema. Especialmente em programas como este.” Mirando o horizonte, Pippa retruca, pensativa: “Os dedos do pé têm ossos?”.
Começa amanhã, dia 10 de janeiro, o “Big Brother Brasil 12”, na Globo, e espera-se que seja tão bom quanto os cinco episódios da minissérie inglesa “Dead Set”, de Charlie Brooker, produzida em 2008 pelo E4 e exibida no Brasil através do Multishow.
A série se passa dentro da casa do Big Brother inglês, onde os participantes se encontram efetivamente confinados por conta de um apocalipse zumbi que tomou conta do mundo. Conforme previsto, eles agem como se a epidemia fosse uma prova especial da produção, ficam lisonjeados com os gritos lá fora e aplaudem a nova participante que consegue entrar na casa – uma estagiária ensaguentada fugindo dos zumbis.
Além disso, a transmissão ao vivo não é interrompida, e tudo acontece em noite de eliminação.
A série de terror conta com a participação de inúmeros ex-BBBs de verdade e da apresentadora oficial da versão britânica: Davina McCall, em papel de destaque – ela admitiu inspirar-se no vilão de “Exterminador do Futuro 2” para seus trejeitos moribundos. É como se Pedro Bial viesse rastejando pelo corredor, olhasse para a câmera e gritasse: “Miolos!”.
Charlie Brooker trabalhou com um orçamento apertado. As cenas de Davina foram filmadas em um só dia, e os mesmos figurantes tiveram de interpretar diferentes mortos-vivos por conta do alto custo das lentes de contato. Em lugar de uma caríssima explosão de carro, recorreu-se a um prosaico “problema mecânico” para justificar uma fuga a pé. As cenas do público na noite de paredão são verdadeiras, e muitos dos extras da multidão decrépita foram voluntários recrutados via internet.
Apesar das limitações de produção e da relativa falta de originalidade do enredo, a atração foi bem recebida pelo público e crítica, que a consideraram bastante realista. Não me surpreenderia se terminasse com a legenda: “Baseada em fatos reais”.
Amanhã, protejam seus miolos.