Folha de S. Paulo – Ilustrada
20 de fevereiro de 2012
por Vanessa Barbara
Em outubro de 2003, o time de baseball Chicago Cubs estava prestes a quebrar um jejum de 95 anos sem o título de campeão da World Series. Em casa, vencia o Florida Marlins por 3×0, tendo já eliminado um jogador da equipe rival.
É esse o tema do documentário “Catching Hell”, de 102 minutos, dirigido por Alex Gibney e produzido pela ESPN. O filme conta como se elegem bodes expiatórios no esporte.
Sob uma chuva de cerveja, insultos e ameaças de linchamento, Bartman desapareceu sem deixar rastros. Chegou-se a sugerir que entrasse para o programa de proteção a testemunhas ou pedisse abrigo na Flórida.
São tocantes os closes do rosto de Bartman, sozinho e vulnerável na cadeira 113, mascando chicletes, com o olhar perdido no horizonte. Ele usava óculos de grau, boné azul dos Cubs, blusa verde de gola alta e um moletom por cima. “Nunca chegou a tirar os fones do ouvido”, dizem.
Até hoje Bartman não dá entrevistas e vive em reclusão, mantendo-se surpreendentemente fora do alcance dos repórteres e rejeitando propostas milionárias da mídia.
Como se analisasse o assassinato de Kennedy, o filme especula sobre a trajetória da bola, a direção do vento, as chances de Alou apanhá-la. Consulta as testemunhas-chave do incidente e até sincroniza a transmissão radiofônica para saber o que Bartman escutava naquele instante.
Sua tragédia é comparada à do jogador Bill Buckner, que em 1986 deixou uma bola escapar por baixo das pernas. Ele jogava pelos Red Sox, mas usava uma luva com o logotipo dos Cubs.
A maldição do time teria começado em 1945, quando expulsaram um torcedor do estádio porque seu bode estava fedendo. “Os Cubs não vão ganhar o campeonato. Nunca mais, enquanto não deixarem meu bode entrar.”