Ilustrada – Folha de S.Paulo
17 de março de 2012
por Vanessa Barbara
Estreia hoje a nova série protagonizada por Kiefer Sutherland, “Touch” (22h, FOX). O ator faz o pai viúvo de um menino autista, Jake, que tem a habilidade de prever padrões numéricos na relação entre as pessoas.
“Os padrões se escondem bem debaixo dos nossos olhos”, explica o garoto, através de narração em off. “Até as coisas que parecem caóticas seguem leis sutis de comportamento”, diz, ressaltando que algumas pessoas conseguem ver como essas peças se encaixam.
Ele conta a lenda chinesa do fio vermelho do destino, um fio atado pelos deuses no tornozelo de cada um, conectando-nos às pessoas cuja vida estamos destinados a tocar. Para o garoto, essas conexões podem ser predeterminadas pela probabilidade matemática.
Jake tem onze anos de idade e nunca emitiu uma só palavra. Não permite que ninguém o toque e costuma subir no alto de uma torre de celular, de onde desenha padrões numéricos num caderno.
Para driblar o mutismo do protagonista, criou-se um personagem misterioso (interpretado por Danny Glover) que explica por que o garoto não fala. “Falar é desnecessário, antiquado, tão inútil para a evolução quanto o seu dedo mindinho.” Pessoas como Jake enxergam o mundo como um emaranhado quântico de causa e efeito. “Ele vê tudo: passado, presente, futuro, e como eles estão interligados. Age como um controlador de tráfego.”
Por mais que a premissa seja interessante, a trama resvala em justificativas eletromagnéticas, passa por acontecimentos cada vez mais forçados e acaba tomando um tombo homérico ao apelar para a relação entre ciência e espiritualidade. Do meio para o final, o piloto é um desastre.
Através do pai, o menino vai guiando uma série de fatos que envolvem um celular perdido, uma cantora irlandesa, um executivo japonês, um sujeito que ganha na loteria, um ônibus escolar cheio de crianças, um iraquiano que vira terrorista só para ganhar um forno e outros sub-enredos decididamente inverossímeis e mal amarrados.
A série lembra o pior de “Heroes”, o pior de “Fringe” e o pior de “Lost”, limitando-se a fornecer o vislumbre do que poderia ter sido uma ótima ideia se desenvolvida de forma inteligente, limpa e plausível.
A julgar pelos lançamentos mais recentes da emissora (“Alcatraz”, “Homeland” e “Terra Nova”), a FOX tem seguido um padrão: ele é baixo e norteado pela expectativa da audiência, não pelos bons roteiros.