Folha de S.Paulo – Ilustrada
2 de abril de 2012
por Vanessa Barbara
Segundo um estudo divulgado no ano passado por uma universidade australiana, a TV pode matar. Não só porque os programas são tão ruins que anulam a sua vontade de viver; os médicos atribuem os danos ao sedentarismo e aos longos períodos de inatividade diante do aparelho.
Para os pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Queensland, a ausência de movimento diminui o metabolismo, afeta a capacidade de processar gorduras e aumenta os riscos de diabetes e doença cardíaca. Quem assiste mais de quatro horas de TV por dia tem 80% mais de chances de desenvolver problemas cardiovasculares do que aqueles que assistem menos de duas horas.
A cada hora perdida diante daquilo que Stanislaw Ponte Preta chamou de “máquina de fazer doido”, aumenta-se em 18% o risco de morrer de complicações cardíacas, e 11% de morrer por outras causas (tédio?). Na inatividade, uma enzima chamada lipoproteína lipase para de funcionar, cortando o envio de gordura para o tecido muscular. Esta acaba por se acumular no sangue, entupir as artérias e catapimba.
Ainda de acordo com o estudo, uma hora de TV diminui a expectativa de vida em 22 minutos, quase tanto quanto a obesidade e o tabagismo. (Cada cigarro ceifaria 11 minutos de sua existência.)
Em crianças, a TV superestimula e prejudica o desenvolvimento normal do cérebro, dispersando a concentração e favorecendo a impulsividade, impaciência e confusão. Também resulta em adultos com ossos fracos e osteoporose. Mesmo ligada ao fundo, a TV reduz em 20% a atenção dos pais com os filhos.
E não é só isso: um estudo da Universidade de Londres provou que é possível morrer de tédio. Após 25 anos da primeira sondagem, pesquisadores analisaram um universo de 7,5 mil funcionários públicos e constataram: aqueles que possuíam as vidas mais tediosas tinham 37% mais chances de estarem mortos ao término do estudo.
O tédio pode estar relacionado a fatores de risco como depressão e hábitos pouco saudáveis, como beber, fumar e comer demais.
Quem assiste seis horas de TV por dia, portanto, vive cinco anos a menos do que quem não assiste. Literal e metaforicamente: se você passa seis horas seguidas assistindo “Domingão do Faustão” enquanto fuma um maço de cigarros, toma cerveja e come sem parar, sendo que o ponto alto de sua tarde é levantar para ir fazer xixi, há grandes chances de você já estar morto.