Um apelo aos londrinos de espírito antiolímpico
Folha de S.Paulo – Turismo
2 de agosto de 2012
por Vanessa Barbara
Mesmo após a abertura dos Jogos, Londres ainda não se livrou de um certo espírito catastrofista quase brasileiro. Pelas ruas, entre transeuntes com guarda-chuvas oficiais dos Jogos e camisas do Team GB – a equipe da Grã-Bretanha –, há pessoas carregando sacolas de tecido com as inscrições: “Levei três horas para chegar ao trabalho hoje” e “Aluguei meu apartamento para uma família de americanos gordos”. Outro modelo de sacola: “Todos eles usam esteroides”.
Primeiro veio o retumbante fiasco da empresa de segurança G4S, que obrigou o governo a recrutar o Exército para auxiliar no setor. A aparência de “estado de sítio” proporcionada pelos militares só fez aumentar a paranoia quanto a ataques terroristas durante a Olimpíada, que já era alta desde que foram instalados mísseis antiaéreos no telhado de prédios residenciais no leste da cidade, onde fica a Vila Olímpica.
Depois, os funcionários de uma empresa de trens ameaçaram entrar em greve, assim como os responsáveis pelo controle de passaportes nos aeroportos e estações. A superlotação no transporte público, sobretudo no metrô, é mais palpável em estações como Bank, Earl’s Court e London Bridge.
Até a inicialmente medíocre previsão do tempo colaborou para o empapado estado de espírito dos londrinos com relação à Olimpíada – felizmente, os boletins atuais são de um otimismo seco e ensolarado.
O próprio departamento de transportes de Londres, o TfL, recomendou que os londrinos trabalhassem de casa durante os Jogos, já que algumas estações só ficarão transitáveis caso 60% dos passageiros habituais mudem seu itinerário.
Anunciado por toda parte, o site www.getaheadofthegames.com [adiante-se aos jogos] recomenda que o cidadão planeje sua rota de antemão e evite as áreas de maior afluência naquele dia. É possível baixar boletins diários com os piores trajetos, consultar mapas de congestionamento e utilizar uma ferramenta para planejar a viagem.
O uso de carro não só é desaconselhável como honestamente idiota, já que não haverá estacionamento nos locais dos eventos e nem em suas proximidades. Ir a pé ou de bicicleta são as melhores opções, segundo a TfL.
Por essas e outras, muitos londrinos decidiram sair da cidade e decretar férias. Na última quinta-feira, 19 de julho, a British Airways lançou uma campanha publicitária intitulada “Don’t Fly” [não voe], conclamando os britânicos a ficar em casa e torcer pelos conterrâneos.