Folha de S.Paulo – Esportes
Especial Olimpíada
2 de agosto de 2012
por Vanessa Barbara
O velocista jamaicano Usain Bolt, considerado o homem mais rápido do mundo, declarou recentemente que quer se tornar jogador de futebol do Manchester United. “Sei que começaria tarde e que é uma aspiração muito grande, mas estou falando sério. O negócio é o seguinte: vi muitos desses caras jogarem e acho que posso fazer melhor.”
Bolt jogaria de ala e aproveitaria para imprimir sua velocidade ao jogo, segundo afirmou. Dá pra imaginar o corredor levando 9,5 s para sair da pequena área, sem sombra de impedimento, e chegar saltitante ao gol rival, antes que os locutores tenham tempo de informar as horas. O maior problema seria o elemento-bola, mas, resolvido esse detalhe, Bolt já pode carimbar sua carteirinha para a Copa.
O que me leva a uma boa ideia para a próxima Olimpíada: tudo seria exatamente igual. Na cerimônia de abertura, as delegações desfilariam, confraternizariam e, no dia seguinte, haveria um eletrizante sorteio. Nele, a seleção de vôlei descobre que irá representar o Brasil na canoagem slalom, e que a equipe de pentatlo moderno foi escalada para jogar handebol.
Os atletas do levantamento de peso achariam graça em ter que encarar uma coreografia de ginástica rítmica, enquanto os meninos do basquete teriam certa dificuldade em driblar um ciclista durante partida de futebol. Times masculinos seriam convocados para esportes femininos, como o nado sincronizado, e seriam obrigados a exibir toda a sua graça e malemolência aos juízes.
Estes, aliás, seriam mantidos em seus esportes, bem como os técnicos de cada modalidade, porque, afinal, a gente não está de brincadeira. Imaginem como seria edificante ver o Bernardinho explicando regras de rodízio para um judoca, enquanto Fabiana Murer se exalta e tenta saltar por cima da rede, alegando que uma boa aterrissagem vale três pontos.
Neymar, aliás, seria uma das grandes promessas na ginástica de trampolim, com suas conhecidas habilidades na queda, enquanto Ganso e Pato se dariam muito bem na natação.
Se todas as modalidades já possuem bons campeonatos mundiais e regionais, nada mais justo que a Olimpíada seja uma celebração à multidisciplinaridade e ao atleta azarão, aquele que usa a cara para frear no salto em distância, escorrega do trampolim ou atira uma flecha nos próprios pés.
Voltaríamos, assim, à época de glória da Olimpíada, quando os amadores dominavam o cenário e havia mais exemplos como o do pedreiro de Nauru, que anteontem foi eliminado em 1min10 por um uzbeque, na categoria até 73 kg do judô.
Entre as ambições de Sled Dowabobo estão se classificar para 2016 e arrumar uma namorada.