Folha de S.Paulo – Esportes
Especial Olimpíada
4 de agosto de 2012
por Vanessa Barbara
Tentei levantamento de peso, mas o ingresso mais barato que restou foi o de 65 libras (210 reais) para um embate feminino na categoria abaixo de 58kg. Fui atrás de saltos ornamentais (295 libras), natação (esgotado), ginástica (idem) e atletismo (450 libras). Tudo era muito caro e acabava em questão de horas. Tampouco havia ingressos para visitar o Parque Olímpico, que é fechado às pobres almas sem credencial.
Só o que consegui foi comprar com antecedência de um mês entradas para o vôlei (55 libras), vôlei de praia (45) e futebol (40).
Dessa forma, quando as imagens ao vivo das competições mostraram enormes áreas desocupadas, a plebe se sentiu pessoalmente ofendida. “Quase 250 mil lugares vazios desperdiçados desde a abertura. Dá pra sentar toda a população de Hackney!”, esbravejou um usuário do Twitter.
O Comitê Organizador da Olimpíada tem procurado solucionar como pode a questão do vácuo em eventos dados como esgotados. Esta semana, prometeram investigar a situação, alegando que tais áreas são em geral destinadas a membros da chamada “família olímpica”: autoridades, patrocinadores, representantes de federações internacionais e da imprensa.
Segundo o jornal “The Guardian”, ao menos 20% dos assentos seriam reservados à patota de elite, sendo que nos eventos mais concorridos (como a cerimônia de abertura e a final dos 100 m rasos), esse índice chegaria à metade.
Alguns desses VIPs mal têm a intenção de saírem de seus hotéis, outros simplesmente não se interessariam. Mais uma vez, o Exército foi convocado para preencher alguns desses lugares vagos, no que foi provavelmente a ocupação militar mais fácil da história.
Tudo isso é particularmente irritante para nós, os primos pobres dessa desalmada família, deserdados por Mamãe Olimpíada e Papai Medalha. Quanto mais o sujeito é fanático pelo esporte em questão, mais insuportável é a visão dos espaços desocupados, em geral nas áreas mais nobres do estádio. (Muitas vezes, os lugares disponíveis para o público são tão ruins que a única coisa que se pode ver dali são os assentos vagos.)
Ao longo da semana, felizmente, o comitê liberou através do site alguns ingressos para o basquete, canoagem e taekwondo (20 libras), tênis de mesa e luta greco-romana (35), handebol e tênis (40), hóquei e judô (45), boxe e nado sincronizado (50), vela (55), vôlei, polo aquático e esgrima (65), atletismo e vôlei de praia (95). Mas só com muita sorte era possível completar a compra, que em geral dava erro.
Do que se conclui que, na Olimpíada, até para conseguir um espaço atrás do pilar é preciso ter uma boa conexão.