Folha de S.Paulo – Ilustrada
6 de agosto de 2012
por Vanessa Barbara
Em março do ano passado, faltando 500 dias para a abertura da Olimpíada de Londres, a BBC estreou uma série chamada “Twenty-Twelve” (em português, 2012).
Espantosamente verossímil, a atração acompanha o comitê de organização dos Jogos, num falso documentário ao melhor estilo “The Office”, com depoimentos à câmera e instantâneos de reuniões.
Foram duas pequenas temporadas de 13 episódios no total, com 30 minutos cada. Sob uma avalanche de críticas positivas, a série terminou na terça-feira retrasada, a três dias da abertura verdadeira, com um corte abrupto e tipicamente britânico.
Neste seriado, a Olimpíada é planejada por uma equipe de burocratas obtusos, brigões, preguiçosos e incompetentes, ainda que às vezes bem-intencionados. Empresas patrocinadoras e políticos vivem se metendo nos assuntos, com resultados sempre desastrosos.
Num dos episódios, o grupo organiza uma despropositada cerimônia para o “Dia da Inclusão”, que por coincidência caiu na mesma data do “Dia da Diversidade” – seguem-se discussões inflamadas sobre a diferença entre ambas.
A ideia vencedora envolvia plantar um carvalho no parque Potters Fields, onde posteriormente se descobriu que havia uma fila de dois anos para mudanças no paisagismo. Alguém sugeriu que a árvore fosse plantada de qualquer forma e posteriormente removida. Na última hora optam por trazer uma caixa de terra para o parque, mas ocorre um imprevisto: esquecem as sementes.
O resultado foi uma solenidade com meia dúzia de fotógrafos, uma fileira de crianças carentes formando a palavra “inclusão” e o plantio de uma vergonhosa bala de chocolate, jogada dissimuladamente por uma atleta paraolímpica.
Qualquer semelhança com a gafe (real) na partida de futebol feminino da Coreia do Norte, em que os nomes das atletas apareceram no telão ao lado da bandeira da Coreia do Sul, é apenas uma coincidência perturbadora.
Escrita e dirigida por John Morton, a série cômica é tipicamente inglesa, com silêncios constrangedores e cortes irônicos. Não há claque e nem risadas gravadas. Narrada pelo ator David Tennant, contou com uma participação especial do próprio presidente do Comitê Olímpico, Sebastian Coe, que confessou adorar o programa.
“Twenty-Twelve” bem que poderia ter seu similar nos Jogos do Rio, em 2016, com a diferença de que não precisaria ser ficcional.