Folha de S.Paulo – Ilustrada
27 de agosto de 2012
por Vanessa Barbara
Segundo a máxima de que a Justiça tarda, mas não falha, o julgamento do mensalão na última quinta-feira começou às 14h25, com um atraso de 25 minutos.
Ayres Britto e suas ombreiras deram início à plenária, que se estendeu até o anoitecer com uma única atração: o prosseguimento do voto do ministro Ricardo Lewandowski sobre as acusações de corrupção contra o deputado João Paulo Cunha e Marcos Valério.
Tomando um cafezinho após o outro, o grisalho Lewandowski, uma espécie de Clint Eastwood da mesóclise, tocou a absolver todos os réus da rodada. Passou uma eternidade elencando os valores alocados para a veiculação de propaganda em cada organização e veículo de imprensa (citar a Fundação Ubaldino do Amaral foi o ápice), e fiquei pensando se esse tipo de enumeração seria realmente necessária – já não estaria registrada nos documentos entregues pelo ministro aos seus nobres pares?
Lewandowski abusou da expressão “no sentido de”, atual substituta do “a nível de” no vocabulário do empolamento verbal. Usou as palavras “cerebrina” e “escorreita” antes mesmo do intervalo para o lanche, que demorou cerca de 40 minutos.
Acompanhar o julgamento do mensalão revelou-se uma opção de entretenimento mais interessante do que a de outras emissoras: na FOX Sports, o time peruano León de Huánuco enfrentava o equatoriano Deportivo Quito pela Copa Sul-Americana; no canal Bem Simples passava a segunda temporada do programa de costura “Ponto e Linha”; no Net Cidade São Paulo, a “Hora do Pescador”; e no RIT a florista Osmarina tirava suas dúvidas com um cardiologista.
A sessão terminou com um “cliffhanger”: o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, levantou-se e disse que, na próxima plenária, responderá às divergências apontadas pelo eminente colega. Com verve de protagonista, o revisor Lewandowski dirigiu-se ao presidente Ayres Britto: “Também peço que me reserve espaço para responder. Se houver réplica, deverá haver tréplica”.
Britto recusou o pedido sob a alegação de que, segundo o regimento, o relator tem proeminência sobre o revisor na condução do processo. “Claro que é uma leitura muito particular que Vossa Excelência faz”, ironizou Lewandowski.
Nos minutos finais, ele ameaçou ausentar-se do pronunciamento de Barbosa, ao melhor estilo “não brinco mais”.
Não percam o capítulo de hoje, a partir das 14h, na TV Justiça.