Folha de S.Paulo – Ilustrada
17 de setembro de 2012
por Vanessa Barbara
Nas últimas semanas, muito se falou da tela azul da Record News, um fenômeno de audiência que tem marcado em média 0,5 pontos (cada ponto corresponde a 60 mil domicílios).
Como o sinal da emissora é gerado em Araraquara, ela não é obrigada a exibir o horário eleitoral gratuito da capital. No entanto, por ser aberta, não pode colocar nada no lugar. Então veicula, duas vezes ao dia, por meia hora, um slide azul muito vivo e estático, avisando que se trata da faixa reservada à propaganda política.
A cerúlea imagem tem angariado mais espectadores do que certas emissoras no mesmo horário, e mais do que a própria Record News costuma obter com sua programação policromática.
A raiz desse fenômeno está no hábito de mudar de canal quando começa a propaganda eleitoral. Em busca de uma rota de fuga, quem não possui TV a cabo acaba sintonizando na tela azul, e por lá o aparelho permanece até que a programação volte ao normal. É como um alarme da hora da novela.
Tenho acompanhado as peripécias da efígie celeste com grande afinco, não por aversão ao horário eleitoral, que é bem divertido, mas por ter plena convicção de que se trata de uma das coisas mais interessantes que a televisão apresentou nos últimos tempos.
A tela azul, por exemplo, não teria coragem de começar um telejornal com observações engraçadinhas e trocadilhos espirituosos sobre o trânsito da cidade. A tela azul não oferece reviravoltas inverossímeis ou atuações vergonhosas como nas novelas, tampouco exibe imagens do Pantanal mato-grossense em especiais sobre plantas que curam.
Naquele cárdeo retângulo, nenhum comentarista esportivo fala platitudes no show do intervalo, nem há mulheres dançando em maiôs de zebra enquanto o auditório bate palmas, amestrado.
A tela azul não desbota e nem cede ao degradê só porque os níveis de audiência baixaram de repente; a tela azul não tira a camisa e nem conta piadas quando os produtores assim o determinam. Não dá prêmios aos primeiros que telefonarem e não tenta empurrar produtos de ginástica ou tônicos capilares aos espectadores, que tampouco precisam se submeter a sofríveis dicas de saúde e fofocas de celebridades.
Sem locuções melosas em off, a tela azul é uma bela surpresa na televisão brasileira.
Seus bons índices de audiência me fazem torcer para que outras emissoras sigam o exemplo, aumentando exponencialmente a qualidade média dos programas.