Folha de S.Paulo – Ilustrada
27 de outubro de 2012
por Vanessa Barbara
Se, na Copa do Mundo, o Brasil é um país de técnicos de futebol, em época de Mostra somos 190 milhões de críticos de cinema.
Atrás de mim, na fila de um longa alemão, uma moça de sandália nos pés e saia comprida não teve pudor em sentenciar: “O filme da Sarah Polley é péssimo. Péssimo”. Seu colega, rapaz com óculos de aros grossos e a barba por fazer, disse que não gostou do iraniano que acabara de assistir: “O roteiro é sofrível, mas achei boa a temática social”.
Sem prestar atenção na mudança de assunto, a amiga insiste: “Os dois se conhecem no avião, mas ele morava o tempo todo na frente da casa dela!”.
Não faltaram críticas pesadas à estrutura dramática e ao conteúdo de vários títulos, sobretudo por parte dos cinéfilos mais maduros. “Lindamente filmado, mas achei o roteiro podre de ruim”, comentou alguém sobre um dos longas pernambucanos. “Tô achando que adorei”, retrucou outro.
Ao fundo, dava pra ouvir os últimos fiapos de resmungo da menina anti-Polley, que já adentrava em outra sala.
Nos grupinhos mais jovens, o que se via era o oposto: eufórica, uma garota disse que chorou o tempo todo na exibição de “Vidas Curdas”, e repetia sem cessar, a respeito de tudo: “Meu, tipo – eu quero muito ver esse filme. Parece que é lindo”.
Após ter confundido Tchaikovski com Tarkovski, ela confessou nunca ter visto nada do diretor russo. “Os filmes dele são pesados, mas acho que vale a pena”, falou a amiga, que havia assistido a “Solaris” e aprovou a fotografia. “É tudo muito bom. Só que meio parado”, observou, receosa. A outra rebateu: “Ah, mas ele é muito conceituado”.
Entre a empolgação dos novatos e a implicância dos veteranos, surgem novos (e interessantes) critérios para seleção e exclusão de títulos – como o do cinéfilo Érico Fuks, que morre de medo de filme com nome de estação.
Só este ano temos seis: “Voz da Primavera” (Irã), “Sinfonia da Primavera” (Israel), “Inverno da Desilusão” (Egito), “Nômades do Inverno” (Suíça), “Uma Janela para o Verão” (Alemanha/Finlândia) e “Sem Outono, Sem Primavera” (Equador/Colômbia/França).
“Pra mim, filme com nome de chave de chuveiro cai três pontos antes mesmo de começar”, afirma, decidido.