Folha de S. Paulo – Ilustrada
29 de outubro de 2012
por Vanessa Barbara
Dia após dia, já se sabe exatamente o que esperar do SPTV 2a Edição (Globo, segunda a sábado às 18h55): três blocos com os assuntos de sempre, curtos e previsíveis como uma couve-flor.
Se está muito frio em São Paulo, é assim que o telejornal começa: imagens de paulistanos agasalhados na avenida Paulista, uma tirada espirituosa feita por um popular, um médico falando sobre os perigos do ar seco. Estatísticas sobre os dias mais frios dos últimos dezessete anos.
No calor, podemos esperar cenas de paulistanos tomando sol no Ibirapuera, crianças nadando no chafariz da praça da Sé, especialistas dissertando sobre o filtro solar.
Em dias de chuva, “caos na cidade” será uma das expressões mais utilizadas, com cenas de trânsito engarrafado, estatísticas da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e motoristas ilhados nas enchentes.
Na véspera e na volta de um feriado prolongado, há sempre câmeras nas rodovias, o paulistano reclamando que Bertioga amanheceu nublada, imagens ao vivo da Marginal parada. “É a volta pra casa”, repete Carlos Tramontina, um tanto preocupado.
O telejornal tem 15 minutos de duração (mais os comerciais). Há dois assuntos obrigatórios: tempo e trânsito, com um espaço adicional para crimes e contravenções.
Para fechar, uma matéria mais esperançosa com o que chamam de “olhar diferenciado sobre o que acontece de relevante na cidade”, segundo o release do departamento de comercialização da Globo. Trata-se de uma pauta inusitada ou singela para que Tramontina possa sorrir e esquecer as mazelas do contribuinte.
No Dia das Crianças, houve uma reportagem sobre pais e filhos jogando peteca num parque da cidade, em atividade promovida pela própria Rede Globo.
Na quarta-feira passada, o assunto foi uma feira de empreendedorismo. “Você que cansou de viver de holerite, seja bem-vindo”, começa o repórter. “Essa feira é o mapa da mina para quem quer virar patrão.”
A sequência é: gracinha de abertura, dois ou três clichês, uma gracinha mais discreta e a piscadela final.
Neste exemplo, uma visitante da feira falou exatamente o que o repórter queria ouvir. “Tem que se preparar, né?”, indagou o jornalista. “Tem que se preparar, conhecer gente, se capacitar”, repetiu a moça. “Não pode desistir.”
É como se ligassem um gerador de chavões sobre contratempos climáticos, congestionamento e “temas gerais”.
Vanessa, na Jornada de Passo Fundo, em 2009, alguém perguntou ao escritor, roteirista e diretor Guillermo Arriaga: “Sua obra é baseada na teoria do caos?” Ele: “Não, não. Tenho déficit de atenção mesmo”.
Sensacional.