Folha de S.Paulo – Ilustrada
18 de fevereiro de 2013
por Vanessa Barbara
A Igreja Católica precisa se adaptar aos novos tempos. Nada mais justo que o próximo papa seja escolhido não por um conclave secreto de cardeais na Capela Sistina, mas durante um reality show transmitido pela Globo em Jacarepaguá, com provas de resistência, câmeras no banheiro e voto dos espectadores.
Seguem as regras:
A Prova do Camerlengo irá eleger o líder do grupo, responsável por mandar um dos participantes para a excomunhão. A audiência terá direito a escolher um anjo para a absolvição da semana, baseada em critérios como: carisma, fofura, autoridade sacra e firmeza do coraçãozinho com as mãos.
O Próximo Papa no Poder, ou PPP Brasil, não terá momentos de tédio. No comando da atração, Pedro Bial promete submeter o Sagrado Colégio a testes relacionados aos sete pecados capitais, com os comentários do padre Marcelo e as bênçãos de representantes da umbanda, judaísmo, budismo e ateus.
Passistas da Estação Primeira de Mangueira serão convidadas a sambar na noite da luxúria, patrocinada por uma marca de cerveja. No domingo da gula, quem comer três ou mais hóstias está fora. Bial ficará pessoalmente encarregado de suscitar a ira com seus textos edificantes.
Bancado por uma montadora, o teste de resistência física obrigará os competidores a passarem as matinas, laudes e noas sem tirar as mãos de um papamóvel.
Câmeras 24 horas transmitirão aos assinantes do pay-per-view a coloração da fumaça da chaminé, e os espectadores poderão enviar por SMS a frase “Habemus papam” para concorrer a prêmios em dinheiro.
Entre os momentos mais aguardados, destaca-se o voto do arcebispo Francesco Coccopalmerio na solidão do confessionário: “Não tenho muita afinidade com dom Odilo”. Conhecido pelas habilidades gregorianas, o vicário de Cristo vencerá com boa margem o karaokê de cantos litúrgicos.
As provas de hagiografia, ortodoxia e fluência em latim seguirão o estilo “torta na cara”. Quatro dos dez mandamentos continuarão em voga, sendo vetado o uso de Seu Santo Nome em vão.
É o povo quem irá escolher o nome fantasia do pontífice, contanto que não recorra ao trocadilho fácil de Nicolau XI, o Papanicolau.
E por falar em obviedades, no que tange ao torneio de joquempô, fica proibida desde já a jogada Maria Madalena (pedra-pedra-pedra).
Em dia de excomunhão, sai da casa quem ganhar do público o maior número de pais-nossos e ave-marias.
Excelente!
O único texto sério que li sobre o imbróglio. Parabéns.
Chorei! Muito bom.