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O guia André aponta para um dos casarões que compõem o Museu Julio de Castilhos. (Foto: Jefferson Bernardes/FolhaPress)

Folha de S.Paulo – Turismo
23 de maio de 2013

 

VANESSA BARBARA
COLUNISTA DA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

 

Todos os sábados, às 11h, um grupo heterogêneo se reúne diante do Chalé da Praça Quinze, bar tradicional no centro histórico de Porto Alegre (RS). É de lá que sai o city tour clássico do FreeWalk Poa, projeto que existe desde julho do ano passado.

No penúltimo fim de semana de abril, a turma tinha 15 integrantes, em sua maioria porto-alegrenses. A quantidade de interessados costuma oscilar entre dez e 20 pessoas de diferentes idades e profissões, em geral, atraídas pela divulgação boca a boca e pelo Facebook.

À maneira do que existe em cidades da Europa, o turista paga o quanto achar justo. Mas, diferentemente de lá, na capital gaúcha os guias não têm de repassar a uma companhia uma taxa fixa por participante.

No FreeWalk Poa, eles são os proprietários da empresa, jovens voluntários que aplicam integralmente as gorjetas na manutenção da estrutura do projeto (site, material de divulgação e camisetas). Ninguém é remunerado.

Segundo o engenheiro químico Thiago Goss, 26, um dos idealizadores do passeio, o objetivo é “mostrar a cidade às pessoas de uma forma divertida e interativa”. Para ele, o grande barato é poder conhecer não só lugares, mas também pessoas diferentes. Já passaram por lá uma cartógrafa estoniana, um dentista que atuava em filmes de terror e um senhor que, no dia da morte de Getúlio Vargas (1954), testemunhou a depredação da Esquina Democrática, no centro. Todos contribuem com informações e anedotas.

Naquela manhã de abril, a caminhada começou com uma história sobre as enchentes, sobretudo a de 1941, quando as águas do lago Guaíba inundaram a cidade e a deixaram submersa numa coluna de água de 4,75 m. Ainda é possível ver as marcas nas paredes do Mercado Público. O impacto na população foi tamanho que se criou a expressão “abobados da enchente”, usada até hoje para definir alguém tolo.

O grupo seguiu para a Esquina Democrática, o prédio da Livraria do Globo, a Casa de Cultura Mario Quintana (antigo hotel onde o poeta morou, compartilhando o saguão com praticantes de luta livre), o Palácio Piratini e a rua da Praia.

Em cada ponto, contava-se uma história – na última, o foco foi um assalto a uma casa de câmbio ocorrido em 1911, um roubo rocambolesco cometido por quatro anarquistas russos que depois fugiram pela cidade a pé, de carruagem, de bonde e numa carroça de leiteiro, até se embrenharem em uma floresta às margens do Gravataí, onde foram pegos pela polícia.

“Nós fazemos muita pesquisa histórica e, a partir dela, organizamos um roteiro e o estudamos bastante, mas cada um tem liberdade para contar o caso da maneira que achar melhor”, diz um dos guias, o administrador de empresas Bernardo Pereira, 30.

Daí surgem as interpretações animadas, as piadas com timing e o acréscimo constante de detalhes.

Os tours duram cerca de duas horas e a média das gorjetas é de R$ 10.

 

ORIGEM

A ideia do FreeWalk Poa surgiu quando Thiago Goss e o amigo André Flores, 25, participaram de um city tour gratuito em Santiago, capital do Chile.

Meses depois, André fez um curso de modelagem de planos de negócios e teve de formatar um empreendimento imaginário. Assim, criou o site da empresa e a página no Facebook.

Na manhã seguinte, já havia interessados perguntando quando seria o primeiro passeio.

Então, ele decidiu levar o plano a sério. “Chamei alguns amigos para ajudar no projeto e estudei um pouco na Wikipédia”, conta Flores, que, como Goss, é nascido em Concórdia (Santa Catarina), mas mora em Porto Alegre há quase dez anos.

“No dia 7 de julho de 2012, um sábado chuvoso, foi realizado o primeiro FreeWalk, com a presença de quatro amigos e duas senhoras, que saíram na metade.” Desde então, o projeto vem crescendo.

O FreeWalk Poa conta atualmente com quatro roteiros. O único que acontece toda semana é o do centro. Uma vez por mês, há um passeio pelo bairro da Cidade Baixa e outro pelo Moinhos de Vento, que acaba em um piquenique no Parcão.

Em abril deste ano, estreou a caminhada pelo Bom Fim.

 

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Grupo participa de tour na praça da matriz (Foto: Jefferson Bernardes/FolhaPress)

 

LINGUICEIRO

No tour que a reportagem acompanhou, a história que ganhou mais aplausos foi a do linguiceiro da rua doArvoredo, alardeado pelos gaúchos como primeiro serial killer do Brasil.

Em 1864, uma das figuras mais elegantes da cidade era José Ramos, um assassino que fugiu de Santa Catarina após degolar o próprio pai. Em Porto Alegre, ele se apaixonou por Catarina Pulse, nascida na Transilvânia.

Além de amantes, viraram colegas de trabalho: a moça atraía vítimas para serem degoladas na residência do casal, à rua do Arvoredo (hoje Fernando Machado).

Os corpos eram esquartejados, passados por um moedor de carne e transformados em linguiça -dizem que muito saborosa. A trama é contada com grande teatralidade e riqueza de detalhes por André Flores, que cogita a possibilidade de fazer um roteiro só de crimes hediondos.

 


ROTEIROS

FreeWalk Poa
QUANTO paga-se o quanto achar justo
QUANDO sábados, às 11h
ONDE Chalé da Praça Quinze
O QUE caminhada pelo centro guiada em português (há outros roteiros disponíveis)
SITE freewalkpoa.com

Linha Turismo
QUANTO R$ 18 a 20
QUANDO ter. a dom., 9h às 16h
ONDE travessa do Carmo, 84, Cidade Baixa
O QUE ônibus de dois andares com comentários gravados circula pelo centro histórico
e pela zona sul
SITE www.portoalegre.travel/site/linha_turismo.php

PASSEIO DE BARCO CISNE BRANCO
QUANTO R$ 25
QUANDO ter. a dom., às 10h30, 15h, 16h30 e 18h
ONDE avenida Mauá, 1.050, portão central do cais do porto
O QUE cruzeiros pelo Guaíba com comentários em português
SITE www.barcocisnebranco.com.br