Blog do Giovanni – Jornal de Londrina
31 de maio de 2013
Um papo com Vanessa Barbara, vencedora do Prêmio Jabuti de livro-reportagem em 2008
por Giovanni Nóbile Dias
Vanessa Barbara, vencedora do Prêmio Jabuti de melhor livro-reportagem em 2008 com O Livro Amarelo do Terminal
Paulista e paulistana, Vanessa Barbara sempre morou em São Paulo. Trata o bairro de Mandaqui – e consequentemente os “mandaquienses” – com total carinho, torce para o Corinthians e adora tartarugas. A mais conhecida delas, Jabuti.
Falo do Prêmio Jabuti, conquistado por ela em 2008 na categoria de melhor livro reportagem com O Livro Amarelo do Terminal (CosacNaify). Do mesmo ano é o seu primeiro romance, O Verão de Chibo (Alfaguara), escrito em dupla com Emilio Fraia. Vanessa também escreveu o livro infantil Endrigo, o escavador de umbigo (Editora 34), que é ilustrado por Andrés Sandoval, também ilustrador na revista Piauí.
Aliás, se você, leitor, também costuma passear pelos textos desta revista, certamente já pode viajar em divertidas reportagens de Vanessa Barbara. O próprio editor João Moreira Sales, na orelha dO Livro Amarelo do Terminal confessa: “Quando conheci Vanessa, ela se chamava Sheila e era muito educada. A gente ligava e ela atendia: ‘Bom dia, meu nome é Sheila’. Isso foi nos idos de 2006, quando lançamos a revista Piauí. Sibilina, Vanessa havia se infiltrado num curso de telemarketing, aprendera os segredos do ofício e, agora, sob o codinome Sheila, nos mandava notícias do front”.
Vanessa Barbara lançou, recentemente, A Máquina de Goldberg, uma HQ, pelo selo Quadrinhos da Cia. da Companhia das Letras. Ela também foi colunista da Folha de S. Paulo; é cronista da revista São Paulo;edita o almanaque A hortaliça; colabora com o Blog da Companhia, da editora Companhia das Letras; trabalha com preparação; é tradutora, vixe! Tanta coisa! De 2009, por exemplo, o livro Nova York: a vida na grande cidade, de Will Eisner, editado pela Quadrinhos na Cia. teve a preparação dela.
“Eu trabalho com uma miríade de coisas (reportagem, crônica, tradução, preparação, roteiros, HQs, infantis…), então acho que já tenho uma boa variedade… a minha primeira ideia de profissão era ser secretária, porque eu adorava organizar papéis e resolver pepinos imediatos”, revela.
Vanessa diz ter Flaubert como ídolo na literatura, pois “(ele) reescrevia a mesma frase 7.485.222 vezes e nunca estava satisfeito”, justifica. Fora da literatura, Vanessa confessa também ter ídolos: “Minhas três tartarugas: Napoleão, Jacinto e Moisés”.
Então, pra resumir a apresentação e ir logo pro papo exclusivo com Vanessa Barbara aqui no Blog do Giovanni, eu diria que é José Hamilton Ribeiro na reportagem, Chico Buarque na composição, Luis Fernando Verissimo na crônica, Yamandú no violão, Garrincha na ponta, Pelé no ataque, Chicão, na zaga (Opa, claro!), e a Vanessa marcando uns bons golaços por aí. Vai, curintcha!
Vanessa, certamente seu nome já figura entre os principais da literatura brasileira contemporânea. Quando a literatura entrou na sua vida?
Gosto de ler desde pequena. Fui incentivada pela minha mãe, que sempre estava com um livro na mão e começou me contando histórias de todos os tipos… acho que já falei disso num post para o Blog da Companhia. Quando comecei a ler por mim mesma, fui de Monteiro Lobato e irmãos Grimm, depois passei para os policiais à la Agatha Christie e não parei mais.
E como sua vida entrou na literatura? E como foi sua entrada no mercado editorial?
Mandei meu trabalho de conclusão de curso, o livro-reportagem O Livro Amarelo do Terminal, para uma porção de editoras, pelo correio. Todas recusaram. Num belo dia, um parecerista externo da CosacNaify resgatou o livro da pilha de repescagem e recomendou a publicação. Da época em que escrevi até publicar demorou 5 anos.
Dos teus trabalhos, li o livro-reportagem O Livro Amarelo do Terminal (Cosac Naify, 2008, prêmio Jabuti de Reportagem), o romance O Verão do Chibo (Alfaguara, 2008, em parceria com Emilio Fraia), o infantil Endrigo, o Escavador de Umbigo, 2011), ilustrado por Andrés Sandoval, e A Máquina de Goldberg (Quadrinhos da Cia., 2013); além de textos da revista Piaui, crônicas da Folha de S. Paulo, no Blog da Companhia e a inaugural da revista São Paulo, agora. Na sua carreira literária, observo uma diversidade de estilos intensa. Você é jornalista, tradutora, cronista, já escreveu livro-reportagem, literatura infantil, graphic novel, romance. Há limites?!
Não! Minha próxima empreitada será um ensaio científico sobre a flunfa do umbigo, que devo enviar para a revista Serrote.
Como você se define melhor? Jornalista, escritora, cronista, tradutora… Em que momento todas essas Vanessas bárbaras se encontram? Num romance, numa reportagem, numa crônica?
Elas estão sempre se trombando, as minhas múltiplas personalidades, tanto que vários textos não dá pra dizer se são crônicas ou reportagens, contos ou crônicas. No Amarelo há um capítulo de ficção (sobre o Álvaro) e no meu próximo romance vou usar algumas coisas reais. Eu me apresento como jornalista, mas gosto de dizer que sou cronista. O bom é que morrer de fome eu não vou.
Você tem viajado para participar de alguns eventos literários até mesmo fora do país, certo? Como tem sido esta experiência?
Hm, sim, há uns meses fui para a China participar do Festival Literário de Macau. Foi muito engraçado, estou escrevendo sobre a experiência.
Como é seu trabalho de pesquisa? Qual seu método de trabalho para chegar a leitores tão distintos? Você trabalha com algum planejamento específico, alguma rotina delimitada?
Não, é tudo meio caótico mesmo. No mesmo dia posso trabalhar num texto de ficção e numa reportagem sobre um simpósio de vida extraterrena, alternando. É legal poder variar.
Qual a situação ideal para escrever?
Não tem situação ideal, a gente se vira como pode. Gosto de escrever no ônibus, no caminho para os compromissos, mas também adoro escrever em casa, de madrugada, em silêncio absoluto.
E para ler?
Gosto de ler antes de dormir, tanto que às vezes me esqueço de ir dormir. Outro dia passei das 2 às 6 lendo um thriller policial, foi meio assustador.
Sobre sua leitura: Tem algum autor ou gênero preferido?
Gosto de romanções tipo Stendhal, Flaubert, Balzac, Dostoievsky, Tolstói, essas bobagens todas. Adoro ler crônicas e jornalismo literário. E biografias de viúvos.
Tartarugas, Mandaqui e o Corinthians têm influencia em sua literatura? Já pensou em escrever especificamente sobre algum?
Vivo escrevendo crônicas sobre o Mandaqui e as tartarugas. O Corintcha não é muito presente nos meus trabalhos porque é um assunto muito polêmico, se bem que o Mandaqui também é.
Já conheceu a Bulgária?
Não, pois que não existe.
Algo que não perguntei e que gostaria de acrescentar?
Pudim.