Folha de S.Paulo – Ilustrada
21 de junho de 2013

VANESSA BARBARA
COLUNISTA DA FOLHA

Um dos cineastas mais versáteis de Hollywood, Billy Wilder dirigiu 26 filmes e escreveu cerca de 70. A exemplo de diretores que mais admirava (e com quem trabalhou), Howard Hawks e Ernst Lubitsch, ele foi versátil e passeou por diversos gêneros cinematográficos: fez comédias, filmes de guerra, suspenses, romances e dramas.

O CineSesc promove uma retrospectiva completa de seus longas em cópias de 35 mm e digitais. A mostra, que ocorre até 4 de julho, traz clássicos como “Crepúsculo dos Deuses” (1950), considerado um dos melhores dramas da história do cinema.

Filmado em preto e branco, o longa traz William Holden como um roteirista desempregado que termina por tornar-se gigolô de uma veterana atriz do cinema mudo (interpretada de forma superlativa por Gloria Swanson).

Outros títulos obrigatórios: “Quanto Mais Quente Melhor” (1959), uma das comédias mais famosas de todos os tempos, e “Se Meu Apartamento Falasse” (1960), em que Jack Lemmon se apaixona por Shirley MacLaine e usa uma raquete de tênis para coar macarrão.

Um dos mais raros da lista é “Fedora” (1978), excelente drama sobre os últimos dias de uma atriz decadente, indisponível em DVD no Brasil.

O diretor nasceu em 1906, batizado como Samuel Wilder, na cidade de Sucha, então sob domínio da Áustria.

Na juventude, viveu em Berlim, onde trabalhava como jornalista de tabloides e dançarino profissional (acompanhante de senhoras).

JOGO DE XADREZ

Com a ascensão do nazismo, Wilder, que era judeu, emigrou para Paris. Em 1933, mudou-se para Hollywood.

Ao longo da carreira, deu primazia ao texto em detrimento a cenas exuberantes que chamassem atenção para si mesmas e distraíssem o espectador da história.

Procurava demorada e pacientemente até encontrar a melhor solução para uma cena, o melhor caminho para passar de um ponto a outro: era um mestre em encadear sequências. Para ele, escrever um filme era como jogar xadrez.

Wilder interessava-se pela natureza humana e a vida das pessoas comuns. Tinha um senso de humor cortante e uma visão de mundo cínica e melancólica.

Seus principais colaboradores foram os roteiristas Charles Brackett (13 filmes) e I.A.L. Diamond (20). O primeiro colecionava quadros com ovelhas e era radicalmente diferente do parceiro.

Quanto a Diamond, conta-se que, após ler um trecho que haviam acabado de escrever, comentou: “Está muito bom, não é?”.

“Muito bom!?”, disse Wilder, saltando da cadeira. “Muito bom? Está perfeito! [Pequena pausa.] E agora vamos melhorar.”

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