Revista Gloss
Julho de 2013
por Vanessa Barbara
“Como saber se um finlandês gosta de você? Fácil: se ele estiver olhando para o seu sapato em vez do dele.” Quem conta a piada é a escritora Susan Cain em “O Poder dos Quietos” (ed. Agir, 2012), falando da fama de introvertidos dos nórdicos.
Não sou finlandesa, mas poderia. Muitas vezes prefiro ficar em casa lendo em vez de ir a uma festa, fazer palavras cruzadas em vez de socializar com estranhos, assistir a um filme em vez de sair para beber. Gente muito animada me dá alergia, assim como rodinhas de violão estridentes. Dar entrevistas para a tevê me é tão prazeroso quanto tomar uma injeção.
O introvertido é uma pessoa sensível que se sente confortável tendo a si mesmo como companhia, prefere ambientes sossegados e gosta mais de ouvir do que de falar. Segundo Susan, um terço da população é assim. A introversão é um pouco diferente da timidez, que é o medo do julgamento social, e se define melhor pelo modo como respondemos aos estímulos, incluindo os sociais. Introvertidos sentem-se bem com menos estímulos e são atraídos pelo mundo do pensamento e do sentimento; extrovertidos pelas atividades e a companhia dos outros. Funcionam de forma diferente.
Ainda assim, ao longo da vida, aprendemos que introversão é um defeito. Na escola e no trabalho, a extroversão tornou-se um padrão opressivo que a maioria de nós acha que deve seguir.
Quando eu estava no ensino médio, tomei uma advertência por ser antissocial. Diziam que eu devia me esforçar para ser mais extrovertida, do contrário não seria nada na vida. Assim como muita gente, fui coagida a “sair da concha”.
Com o tempo, entendi que o ideal expansivo é uma bobagem. Ninguém deveria se sentir obrigado a ser quem não é; em lugar disso, deveríamos valorizar os introvertidos pelas suas qualidades singulares.
Hoje adoro jogar vôlei e dançar, mas sei que preciso recarregar a bateria ficando sozinha. Virei escritora em vez de repórter e não sinto necessidade de provar o meu valor sendo sociável o tempo inteiro.
E acho a maior graça quando me aconselham a “sair da concha”: respondo que ninguém diz isso ao molusco e boto de volta o fone de ouvido.