Folha de S.Paulo – revista sãopaulo
10 de novembro de 2013
por Vanessa Barbara
A Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude ainda não fez um pronunciamento oficial, mas a notícia não há de tardar: as manifestações são saudáveis para o povo, e seus benefícios vão muito além do aspecto político, englobando a esfera do fitness e do bem-estar físico e espiritual.
Primeiro, incentivam o trekking, ou as caminhadas de fôlego – um protesto padrão que siga do Masp até a Secretaria da Educação, na Praça da República, como o que ocorreu no último dia 21, percorre ao todo 3,8 km. Meses atrás, uma passeata chegou a 11 km, num caminho ziguezagueante que saiu do Largo da Batata e chegou à avenida Paulista.
Alguns roteiros comuns são o trecho Anhangabaú – Palácio dos Bandeirantes (10,2 km) e Câmara Municipal – Delegacia de Pinheiros (6,9 km), o que de quebra dá ao manifestante o privilégio de fazer um tour a pé pela cidade, sem o inconveniente dos congestionamentos.
Como se não bastasse, os protestos são bons para soltar as articulações (literal ou metaforicamente), promovendo o alongamento da coluna enquanto o cidadão desvia de possíveis golpes de cassetete. Esse tipo de queimada revolucionária conta ainda com sprints (corridas de arrancada) que fortalecem os músculos e auxiliam no condicionamento cardiovascular.
Aos gritos de “Quem não pula quer tarifa”, voluntários promovem uma aula grátis de jump. Outros preferem se dedicar ao chute livre de bombas de gás, a fim de tonificar o quadríceps.
Certa vez, fugindo das bombas durante uma marcha (até então) pacífica, garanto ter ouvido um estalo praticamente quiroprático que há de ter curado um problema crônico em minha coluna lombar.
Os protestos de rua incentivam a prática de RPG, capoeira, ioga (quando os cidadãos se sentam no meio da rua e precisam entrar em nirvana para não recuar), pilates, artes acrobáticas, arremesso de peso, krav magá e treinamento da capacidade respiratória (gás lacrimogêneo, spray de pimenta, fumaça, pum de P2).
As manifestações entram na categoria de esporte coletivo, em que os mais fortes ajudam os mais fracos, enquanto um dos lados segue as ordens imprevisíveis dos donos da bola.
Com a chegada do verão, os manifestantes ainda terão outro benefício advindo da adesão às passeatas: o calor ajuda a abrir os poros, favorecendo tratamentos de pele (como o peeling promovido por nuvens de gás provenientes de cilindros vencidos) e promovendo um emagrecimento saudável e engajado.
Alguns médicos já pensam em prescrever uma dose de manifestações três vezes por semana, nos ritmos moderado a intenso (de acordo com a repressão).
Os donos de academias prometem fazer oposição.